MISSA ORTODOXA: Killingsworth – «Viking Steel» (2006)


KILLINGSWORTH
«Viking Steel»
[Rockneck, 2006]
No princípio do milénio o heavy metal mais clássico estava, aí sim, verdadeiramente remetido para o underground. Pouquíssimas bandas novas trilhavam este caminho e foi subterraneamente que o heavy metal sobreviveu, por via de alguns defensores ferrenhos. Sempre houve, porém, alguns que iam contra a maré, e devido a isso algumas bandas continuaram, no meio do marasmo, a lançar bons, por vezes excelentes álbuns de power metal épico e afins… Nos Estados Unidos da América os The Lord Weird Slough Feg são disso um exemplo flagrante. Uma banda que fazia o que queria e não se importava minimamente com o que estava a vender no momento. Alguns outros resistentes tiveram uma visibilidade ainda bem mais reduzida… é o caso dos conterrâneos dos Slough Feg – igualmente de San Francisco – que aqui vos trago hoje, com mais uma pérola perdida do underground.

Bolas, isto é que é feeling!

Os Killingsworth, centrados na figura de Shawn Killingsworth, vocalista e guitarrista, fizeram apenas este álbum, «Viking Steel». Um álbum de power metal simples e directo, com uma abordagem por vezes quase Motörhead, no peso e na voz, outras vezes com melodias dignas de Iron Maiden, nas guitarras e nos riffs. Sempre, porém, profundamente épico! Como se pode pressentir na capa, de um certo amadorismo mas com a força adequada, e depois nas letras, aliás muito bem escritas, que recorrem à mesma temática… os Vikings. Shawn, apesar de oriundo de L.A., fez o liceu em Stavanger, na Noruega, o que obviamente lhe facilitou a narrativa final em língua escandinava no tema «Rage», cujas letras sugerem a temática do alcoolismo. «Viking Steel» foi editado em CD, presumo que pela própria banda, com um booklet com informação muito escassa (e apenas fotos ao vivo no interior)… e nunca foi reeditado.

Vikings ao ataque!

Fico rendido logo com o fantástico tema-título, de grande inspiração metálica, em que toda a força do colectivo é imediatamente visível. Músicas directas mas complexas, um excelente trabalho de bateria, um excelente trabalho de baixo (por Manuel Lopez, vocalista dos históricos Ulysses Siren), e solos melódicos e técnicos. A qualidade mantém-se ao longo de todo o álbum, até ao tema de encerramento «Cross To Bear» (sobre um Viking que não aceita a conversão ao cristianismo), mais lento e melancólico mas que ganha velocidade no final, num epílogo fabuloso.

Uma banda perdida na bruma.

Dá-me imenso prazer trazer álbuns como este a esta rubrica. Um álbum fortíssimo, marginal no seu tempo e ainda hoje, que decerto poucos conhecerão, mas que é uma verdadeira jóia oculta… e não tão longínqua no tempo como isso.

Que estejas bem, man, onde quer que andes.

Tristemente, a banda terá acabado pouco depois da edição do álbum… consta que Shawn Killingsworth era dependente do álcool e quiçá outras substâncias e desapareceu de circulação… uma perda trágica. No YouTube encontram-se alguns videos ao vivo numa reunião dos alcoólicos anónimos em 2006, incluindo temas novos que nunca chegaram a ser lançados. Em face deste desfecho aziago, fica o legado possível, conhecido de poucos, mas de maior qualidade musical que o de muitas bandas com nome.

A única edição que existe deste colossal álbum.