MISSA ORTODOXA: Paul Chain – «Alkahest» (1995)

PAUL CHAIN
«Alkahest»
[Godhead Recordings, 1995]
Paul Chain é um músico italiano que tem uma discografia variadíssima mas que é conhecido sobretudo por ter formado os Death SS em 1977 juntamente com o Steve Sylvester (Stefano Silvestri). Entretanto abandonou o pseudónimo (que mais não era que a tradução do seu nome, Paolo Catena), mas entre 1987 e 2003, período a que pertence o presente álbum, a sua principal banda denominava-se Paul Chain. É aliás difícil acompanhar a sua produção musical; tentarei fazer um apanhado sintético e falível: ao abandonar Death SS, o músico lança o esclarecedoramente intitulado EP «Detaching from Satan» em 1984, sob o nome Paul Chain Violet Theatre. Isto era uma reformulação do projecto a solo Paul Chain Group, iniciado em 1979. Após dois álbuns e dois EPs de doom metal, num período em que trabalhou com 50 músicos diferentes, encurta o nome do conjunto para Paul Chain e, apesar de se manter no doom metal, torna-o cada vez mais experimental e excêntrico (lembro-me, por exemplo, da minha surpresa ao ouvir o CD «Park Of Reason» e descobrir que o último tema, com cerca de quinze minutos, são na realidade dois temas misturados… se quisermos ouvir um temos de pôr o balance todo para a esquerda e se quisermos ouvir o outro, todo para a direita… grande marado, lembro-me eu de pensar). Além disto, foi tendo outros projectos mais ou menos psicadélicos e experimentais, com nomes como The Improviser (música improvisada ao vivo), Experimental Information (relativamente inclassificável) e, desde 2003, as suas criações vão sendo feitas progressivamente sob os nomes P. C. Translate, Translate, Paul Cat e, desde 2012, Paolo Catena.

Paul a caminho do calvário.

Outra originalidade de Paul Chain é que, segundo o próprio, a linguagem que utiliza nas músicas é puramente fonética, assemelhando-se ou não a uma língua real, pelo que não há letras, a não ser quando vocalistas convidados escrevem os seus próprios textos. É o caso deste álbum, cujas cinco primeiras músicas são cantadas por si próprio e as quatro finais pelo Lee Dorrian, dos Cathedral, que passou duas semanas em Itália para as gravar.

Paul e Lee bem acompanhados em estúdio (pela Sandra Silver).

Na realidade, as músicas cantadas por Paul Chain são para mim o ponto alto do disco, uma vez que a sua voz e a sua entoação se entrelaçam de uma forma hipnótica com os riffs simples mas muito efectivos destes temas extraordinários. A capa e o nome do álbum vão beber a referências alquímicas e, para mim, desde que ouvi este álbum pela primeira vez, já há décadas, foi evidente que Paul Chain conseguiu aqui efectivamente transformar a sua música em ouro. «Alkahest» é mais um disco que tenho muito prazer em trazer aqui, com a esperança que ouvidos desconhecedores possam ouvir nele o mesmo que eu ouço. Uma obra-prima do doom metal, diria mesmo que do metal em geral.

Um mago do doom metal.

Já há uma carrada de anos, num restaurante indiano de Lisboa, o Lee Dorrian contou-me que o Paul Chain, que é cego de um olho, lhe explicou que cegou porque uma vez estava sentado a uma mesa na qual estava pousada uma faca… a faca começou inesperadamente a levitar e espetou-se-lhe no olho. Muito mais tarde contei esta história a uma jovem e promissora banda italiana num backstage francês. Eles riram-se, e comentaram: “a verdadeira história é que foi um acidente de bicicleta“. Seja como for, hoje em dia, até existe uma fan page italiana no Facebook dedicada ao “olho de vidro do Paul Chain”.

Alquimia musical em formato CD.