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MOONSPELL: O «Wolfheart», nas palavras de Fernando Ribeiro [exclusivo]

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Por esta altura, uns longos vinte e seis anos depois, já não resta qualquer dúvida em relação aos méritos e ao profundo impacto que o «Wolfheart» teve no panorama da música pesada — não só a nível nacional, mas também internacional. Vai daí, decidimos recuperar este texto assinado por Fernando Ribeiro, em EXCLUSIVO para a LOUD!, em que o músico viaja no tempo até à fase de arranque da brilhante carreira dos MOONSPELL.

A LESTE

Que o «Wolfheart» nos levou longe parece-me, a mim, uma constatação óbvia. Afinal, estou sentado num quarto de hotel em Novosirbisk, a terceira maior e mais importante cidade da Rússia, situada já em território Siberiano. Para trás ficou o, por nós, já mais conhecido Leste da Europa, bem como outras cidades Russas entre primeiras visitas a regiões tão emblemáticas como os Urais, a cidade mercantil de Ninji-Novogorod, a passagem por terras de guerreiros, cosmonautas, escritores, serial killers (Rostov-on-don era a casa de Andrei Chikatilo, a Besta Humana) e outros. num percurso parecido ao do herói literário de Júlio Verne (Miguel Strogoff, O Correio do Czar) cuja leitura me tem acompanhado e dado forças perante as lonjuras e adversidades desta nova aventura. Curiosamente, o nosso promotor Russo (Dmitry Saraef) pediu-nos para, em Moscovo e São Petersburgo, tocar este disco na íntegra, englobado num espectáculo especial para celebrar o nosso regresso a estas cidades que visitamos, ano sim, ano não, desde 2001. Nós aceitámos o repto, e por entre as 27 canções que tocámos nessas noites longas, duras mas mágicas, temas como «Love Crimes», «Trebaruna», «An Erotic Alchemy», «Of Dream And Drama» (que nem sempre figuram no nosso alinhamento) foram recebidas com aquele espírito de eternidade que o disco-coração-de-lobo conseguiu granjear para si próprio, graças a uma combinação de factores que ninguém pode verdadeiramente enunciar mas que, como tentarei explicar, se reuniram, durante estas muitas luas cheias, que passaram desde aquele frio Inverno na pouco hospitaleira Hagen, cidade da Alemanha, região do rio Ruhr, em 1995 quando o gravámos, nos estúdios Woodhouse com Waldemar Sorychta e Siggi Bemm.

Amanhã, seguimos viagem rumo a Pequim. Haverá por lá corações de lobo? Acredito que sim e teremos gosto em conhecê-los. Esta ideia de ir à China começou com a visita de uns fãs chineses ao nosso concerto em Nova Iorque, na última tour (Voices From The Dark) em que dividíamos o palco com os Marduk e os Inquisition. Essa faísca foi tudo quanto bastou para que tentássemos expandir até à Ásia, território ainda não conquistado mas extremamente ansiado por nós. Tenho a certeza que outras datas se seguirão, a seu tempo, agora que o Japão se recupera de acidentes nucleares e suas consequências económicas; agora que a Austrália mostra interesse e que a Índia faz as suas primeiras ofertas para ter por lá o feitiço da Lua. Mas tudo começa com uma conversa, rodeado de fãs, aftershow no Gramercy Theatre, com dois deles que vieram explorar Nova Iorque com o intento de nos ver. Ouvem-nos desde a adolescência com um respeito e dedicação tocantes, com uma etiqueta milenar, chinesa. Pode ser que nos encontremos em Pequim. Espero que sim. Iremos ainda demorar-nos mais quatro dias na Sibéria, uma região surpreendentemente calorosa e hospitaleira, e iremos visitar mais três das suas magnificas cidades (Barnaul, Krasnoyark, Irkutsk). Acabamos a aventura russo-siberiana na mítica Irkustk, para onde também o correio do Czar se dirigia e tal como Miguel Strogoff, iremos entregar aos nossos fãs o testemunho forte da nossa música. Depois, China e, finalmente, casa.

MANIA DA PERSEGUIÇÃO

As pessoas perguntam-se sempre – como nasce um novo disco?, ou como nasce um primeiro disco?, como se esta pergunta implicasse desde logo uma dificuldade inumana ou uma provação para a qual nenhuma banda ou artista está realmente preparado. Durante muitos anos, as próprias bandas alimentaram esse mito, com o objectivo de criar, talvez, uma mística que prendesse a atenção dos seguidores, deixando-os suspensos de qualquer novidade ou avanço artístico. Toda a arte vive da expectativa. Por isso, com a pressa da virtualidade, cada vez mais se luta por coisas levadas da breca como teasers, crowd-funding, contas no YouTube. Nós temos e fazemos (quase) isso tudo. Vivemos da música e como em qualquer ecossistema, a adaptação é essencial. Mas, no fundo, todos vivemos saudosos daquela antecipação e admiração de “como é que eles conseguiram?”.

Não se pode dizer que o «Wolfheart» tenha sido uma consagração. Pelo menos, não à primeira. As pessoas não correram para as lojas para o comprar. A corte foi feita com tempo e sacrifício, sempre em consciência de que tínhamos algo importante nas nossas mãos, algo que tínhamos forjado sozinhos, sem conselho ou orientação. Precisávamos de um guia. Iríamos encontrálo(s). Sempre fomos uma banda que foi olhada com alguma desconfiança. O facto de sermos portugueses e não, por exemplo, escandinavos, não dava nem às editoras, nem à imprensa, nem aos fãs do estilo, garantias algumas. Não vínhamos de uma região certificada. Em Portugal as coisas não eram diferentes. A inteligência metaleira dedicava-se (e porque não?) a outras coisas e bandas, e contavam-se pelos dedos de uma mão quem aparecia na Feira da Ladra em Lisboa com peças de verdadeiro underground para trocar, vender, dar a conhecer. Nós estávamos lá e esse conhecimento, desprezado por bandas que queriam um percurso mais conhecido, mais facilitado, com alguma ingenuidade à mistura, mais rock star como viam nas revistas mainstream, foi-nos extremamente útil no nosso plano de conquista.

Muita gente diz que tenho a mania da perseguição. Não o nego. Vivo as coisas com paixão e nem sempre o meu pensamento é claro como as águas matinais de um ribeiro. Mas sempre tive as minhas razões, quer os outros as entendam ou não. E tudo começou com o «Wolfheart», um disco planeado entre o defensivo e o isolamento perante quase tudo o que nos rodeava (orgulhosamente sós!), perante os nossos partenaires da cena portuguesa, perante as igrejas queimadas e as ameaças de morte, por carta, que nos chegavam da Noruega e que nos davam algum alento. Esse alento traduzia-se na vontade (por vezes ingénua) de marcar o nosso (próprio) território e de viver para uma alcateia que ainda tínhamos de criar. Daí a imagem do Lobo. Do seu coração.

LUSITANIAN METAL

Tínhamos lançado o «Under The Moonspell» há um ano e pouco, encontrando-nos perante aquele (pseudo) dilema do disco novo, do primeiro álbum. Ideias e motivação não nos faltavam. Faltava-nos, apenas, um fio condutor e verdadeiras canções. Possuíamos dentro de nós aquilo que dá resposta ao como fazer um novo disco: um misto de criatividade ardente (tínhamos apenas uma média de idades de vinte anos na banda, alguns ainda nem tinham lá chegado), uma inquietação/ desassossego que nos fazia todos os dias, sem excepção, discutir planos, estratégias, diferenças e muitas emoções. Todos os dias nos encontrávamos para ouvir música, debater filosofias, inventar conversa. Qualquer coisa que aplacasse a fome que o Lobo, que crescia dentro de nós, começava a sentir e a reclamar, obsessiva e selvaticamente. Estávamos ainda frustrados e descontentes pelo modo como o «Under The Moonspell» tinha sido gravado e editado, e apesar de ter sido este o disco que fez com que o nosso nome circulasse nos circuitos que pretendíamos, não estávamos, de todo, satisfeitos com a nossa performance musical. O «Under…» era, para nós, um objecto estranho, um estilo de metal lusitano que nós inventáramos, espremendo em 21 minutos, a máxima duração de um EP/mini-CD na altura. O «Under…» era uma manta de retalhos obscuros e sulistas que se isoladamente mostravam perspectiva e talento, não funcionariam numa cena que, sim, abraçava algum avant-gardismo desde que ele fosse, de algum modo, mais inteligível. O lusitanian metal que alguns tinham amado de morte, tinha de ser ultrapassado em favor de algo mais europeu, que incluísse o Sul, Portugal, mas que fosse mais que um disco regionalista. Tal como os textos que líamos apontavam: tínhamos de nos pôr a caminho de uma maior universalidade, de uma maior capacidade de comunicação das nossas ideias e não era em Portugal que o faríamos. Essa era uma das nossas (poucas) certezas. A história que se seguiu, viria a confirmar essa nossa convicção.

OS PLANETAS ALINHAM-SE

O negócio com a Adipocere (editora do «Under The Moonspell») era simples. Eles pagavam o estúdio e davam-nos CDs. Se o «Under…» tivesse “sucesso” iríamos depois receber mais dividendos. Esta era uma parte do acordo que ninguém julgava atingir e que nos viria a dar alguns dissabores com o Christian Bivel, que era bem-intencionado mas ingénuo, incapaz de reconhecer o diamante em bruto que tinha em mãos, mais interessado em promover um disco inócuo dos suíços Alastis e um projecto do seu companheiro da editora da altura, que me falha a memória de seu nome, e nós, em Portugal, depois de uma tour quase ridícula à espera que ele se decidisse, enquanto dávamos os últimos retoques em temas como «Alma Mater», «Vampiria», «Wolfshade». Com esse quinhão de CDs do nosso lado, a ordem era para vender alguns, já que a evolução da banda custava dinheiro e os nossos pais não o podiam dispensar ou esbanjar neste sonho pueril da banda dos filhos. Mas na grande maioria os exemplares destinavam-se à distribuição por outras editoras, por muito impossível que nos parecesse assinar por qualquer uma das grandes: Peaceville, Osmose (mais interessada, e bem, nos Decayed), Nuclear Blast, Avantgarde (de Itália), Metal Blade, Roadrunner, Moonfog, e, claro, a nossa favorita para onde o nosso tipo de som e postura evoluía: a alemã Century Media, casa de bandas tão influentes para nós como Tiamat ou Samael. Com o dinheiro da venda de CDs e t-shirts comprámos ainda um fax e um atendedor de chamadas. Foi nesse velho aparelho que, entre várias negas, nomeadamente por escrito, ficou imortalizada a chamada do Robert Kampf, fundador da Century Media e responsável pela assinatura de todas as bandas a quem queríamos juntar o nosso nome: MOONSPELL.

Ele dizia-nos que tinha gostado do que tinha ouvido, que era fresco, louco e original e que na sua busca por projectos de diferentes países, nós nos tínhamos destacado. Os elementos começavam a alinhar-se e graças à visão de Kampf, tínhamos, talvez, ultrapassado um obstáculo que até agora tinha sido o grande inimigo das bandas do nosso país: uma certa “insularidade” sul-europeia que nem a entrada na Comunidade Europeia tinha resolvido. Foi neste espírito, sempre lutando contra a má aceitação nacional da nossa tentativa de diferença por parte das outras bandas e dos divulgadores chave do nosso metal; contra a impossibilidade de fixação num local de ensaio (a «Vampiria» foi composta numa cave da Amadora, alugada à hora a peso de ouro pelos aproveitadores do costume, donos de lojas de instrumentos, senhorios/usurários); que conseguimos acabar o processo de composição do «Wolfheart». Na altura os nossos guitarristas (Mantus-Duarte e Tann-João), infelizmente perdidos na tempestade que se seguiria à edição do «Wolfheart» e as consequentes e intermináveis digressões, eram os principais compositores, mas, num método que mantemos até hoje, toda a gente tinha ideias, partes (como lhes chamávamos) e havia um certo encanto alquímico no encaixe das mesmas. Eu assumi a produção lírica por inteiro, sempre aberto a “partes” que fizessem o sentido do lobo e suas histórias.

A HORA DO LOBO

Rumámos à Alemanha para gravar com o nosso produtor de sonho (Waldemar Sorychta) que na altura era uma grande vedeta (comportando-se como tal) pois tocava com o Dave Lombardo nos Grip Inc e tinha assinado discos tão fabulosos como o «Wildhoney» dos Tiamat ou o «Ceremony Of Opposites» dos Samael. Antipatizou connosco à primeira. Quem eram estes labregos, estes jovens lobos esfomeados que não paravam quietos no estúdio, que não eram profissionais, nem conhecidos como ele, mas, talvez apenas, mais uma extravagância da editora que o contratava para produzir os discos das bandas que assinara? O processo de gravação foi duro, aqui e ali humilhante, mas revelador. Independentemente da sua própria opinião acerca de nós, o Waldemar fez um grande trabalho e entre ele e o Robert Kampf tínhamos encontrado, finalmente, as nossas figuras tutelares no mundo da música e regressámos a casa, feridos no ego, mas com um disco que nos soava tão bem ou melhor que os das bandas que seguíamos como fãs.

Como alguém nos disse na Century Media: agora sim, íamos trabalhar. E nunca mais parámos. Desde que entrámos numa carrinha para fazer suporte aos Morbid Angel (que na altura apresentavam o disco «Domination») e aos Immortal (com o «Battles In The North») nunca houve um ano sabático, uma pausa para pensar, um tempo para nós. Lidámos com todas as convulsões internas e externas em tempo real, sabendo que a banda, o espírito da banda extravasava a nossa mortalidade e condição humana. Foi graças à estrada que o «Wolfheart» conquistou finalmente as pessoas. Primeiro na Alemanha, onde os cabeças-de-cartaz nos desejavam a morte por vendermos mais merchandise que eles e por colher mais aplauso que qualquer outra banda nas noites de concerto. Era o factor novidade, o Lobo tornado som, carne, luz, a alcateia a nascer, um pouco por toda a parte, muito além da nossa ambiciosa mas juvenil estratégia e dos nossos sonhos sonhados com intensidade num quarto da Brandoa, que dividia com o meu querido irmão Ricardo (Ribeiro).

AND KILL ME AGAIN, OR TAKE ME AS I AM FOR I SHALL NOT CHANGE…NEVER

Em 2015 o «Wolfheart» fará vinte anos. E foi e será preciso este tempo todo (e mais algum) para perceber a dimensão do seu alcance. No nosso Portugal é, passado muito tempo, talvez dos poucos discos que reúna algum consenso na nossa cena, naturalmente desavinda. Não porque seja bom ou mau, ou um exemplo do que é o metal português (pessoalmente sempre achei que bandas como Tarântula ou Ramp representassem melhor a história do metal em Portugal); mas porque, quer se queira quer não, pôs o metal português num mapa importante (que os Heavenwood seguiram durante um tempo do qual tenho saudades, nunca fizemos uma tour juntos, eles separaram-se em má altura para todos), em países que teimavam em não reconhecer que o metal tem esta particularidade de baralhar os eixos e os fluxos migratórios do rock. Foi também em Portugal que nos acusaram de não termos sido nós a gravar o disco, mas músicos/mercenários contratados pela editora. Este tipo de história só poderia vir mesmo do nosso país, campeão de certas teorias maledicentes e conspirativas mas, ainda assim, muito, muito pitorescas. Os defeitos do disco que têm algum charme, o mau inglês, certificam a sua origem: os Moonspell da altura. Lá fora, depois de 20.000 kms numa carrinha, o disco batia os recordes de vendas da editora para um disco de estreia, vendendo 50.000 unidades em pouco mais de dois meses. Houve festa, chouriço assado, janta no restaurante português de Dortmund e a edição capa branca com a «Ataegina» que mais que quintuplicaria as vendas.

Para se perceber o alcance do «Wolfheart» nada melhor que conhecer os fãs das cidades recônditas da Rússia, contentes pela minha pronúncia na «Vampiria», que lhes lembra a deles. Nada melhor que ouvir a história de membros de bandas americanas que se tornaram hoje em dia gigantes, tomando ácidos a ouvir o «Wolfheart» a caminho do high school. Nada melhor que o Phil Anselmo, a caminho de outra bebedeira, dizer que nós revolucionámos o underground na altura. Nada melhor que saber que entre a plateia do nosso primeiro concerto em Oslo, Noruega, com a tour «Wolfheart», se encontravam todos os ilustres, mesmo os que nos ameaçavam com a extinção. O «Wolfheart» tem o poder estranho e mágico de uma testemunha silenciosa, que se impôs à nossa vida enquanto banda e que, do alto do seu lupino trono, ainda vigia muitos dos nossos movimentos e nos relembra da diversidade de emoções que atravessam um disco que reclamou, ainda nesta vida, a sua própria eternidade ou posteridade. Através de nós, de quem nos segue, de quem nos condena, através de micro-histórias infindáveis.

O MEU CORAÇÃO É DE LOBO

Para mim o «Wolfheart» é o disco que atesta da minha juventude mas também da passagem voraz do tempo por nós e através de nós. O «Wolfheart» é o selo dos Correios Portugueses; a satisfação do fã que não falava uma palavra de inglês em Yaroslav, na Rússia. São as imensas tatuagens na pele que o homenageiam (incluindo a do Dani Filth). É um espírito mágico e inquebrantável que quase me custa a reconhecer que eu estive envolvido nele como fazedor dessa alma. O «Wolfheart» é posse de todos. Um coração universal mas indivisível. Um disco como nenhum outro. Um pulsar como nenhum outro. Que nos garantiu a eternidade.

Publicado originalmente na edição #153 da LOUD!.

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