MOONSPELL @ Pavilhão Rosa Mota, Porto | 18.12.2020 [reportagem]

Impecável. Máquina bem oleada. Sempre bom. Feitas as observações óbvias, siga-se para esta actuação dos MOONSPELL, quase a encerrar um “ano de merda”, palavras de Fernando Ribeiro, em que se escutou uma «Breathe», respirando com máscara e mantendo a distância sanitária sempre exigida. Não foi um concerto que tivesse muita gente, e até o palco e a banda pareciam distantes quando vistos do meio da plateia. Actuando sem barreiras e num palco quase minimal, apenas com duas cruzes, mais baixo que a maioria daqueles onde passam parte de um ano normal, mesmo os músicos não conseguiram deixar de fazer sentir o distanciamento. Até o público, habitualmente caloroso, ia dançando confortavelmente sentado nas cadeiras, instituídas por ordens superiores.

O arranque fez-se ao som da primeira das dez faixas do «Hermitage», que se anuncia para daqui a semanas. «The Greater Good» é uma boa faixa, claramente, mas olhando para o esquecimento a que a primeira década deste século foi votada no alinhamento desta noite, arrisca-se a ser esquecida num par de anos. Será pena, mas a verdade é que os MOONSPELL também estão cada vez mais limitados na guerra entre escolha de temas e o tempo que têm para tocar. Nesta noite, claramente ganhou o tempo, apenas oitenta minutos, e Fernando Ribeiro fez questão de o sublinhar.

De todos, naturalmente, o vocalista foi o mais activo em palco, o habitual lobo alfa. Foi palavroso como habitual, relembrou como «Opium» tinha sido estreada em Mafamude, ali perto. Quase no final, fez os agradecimentos, e eram devidos, afinal eram a única banda de metal num conjunto de actuações com artistas escolhidos. Mesmo assim, não hesitou em referir o ostracismo a que artistas e restauração estão sujeitos. «Common Prayers» foi a segunda faixa nova da noite, e que bem soube ouvir o novo tema encostado às recuperadas «Soulsick» e «Butterfly FX». A “premonitória«Everything Invaded» foi até um dos temas menos esperados de um alinhamento que deixou demasiados discos de fora, mas 2020 exigia-a.

Musicalmente, houve menos Ricardo Amorim que o desejado. Mesmo assim, registam-se dois bons solos, principalmente neste arranjo que «Wolfshade» possui agora. Aires foi o mais exuberante dos instrumentistas, sendo bonito ver como hoje assume um protagonismo pouco espectável há uns anos. Pedro Paixão continua oculto na sombra da Lua, manobrando todos os cordéis sonoros que tornam tão rico o som do grupo. O mais jovem lobo, Hugo Ribeiro, já começou a mostrar a sua marca, e os pratos possuem hoje outro protagonismo na bateria.

Que 2021 seja um ano melhor para estes lobos, e toda a alcateia que os segue, mesmo aquela que ficou segura em casa. Certamente o feitiço da Lua ajudará em tudo isso.