MOONSPELL: Pela estrada fora — Dias 2 e 3, Newcastle e Wolverhampton, Inglaterra [tour report]

A LOUD! continua a acompanhar os nacionais MOONSPELL numa curta digressão pelo Reino Unido, ao lado dos PARADISE LOST. Com o habitual carinho pelo público nacional, Fernando Ribeiro vai relatando a viagem em exclusivo. Hoje há data-dupla, depois do arranque na Escócia [ler aqui].

Dia 2 — Riverside, Newcastle, Inglaterra
12 de Fevereiro de 2022

“Tough Crowd”; ou público difícil, em português. E foram essas as palavras que troquei com o Greg Mackintosh depois do concerto do passado sábado, em Newcastle, no Riverside. Ele é um dos meus guitarristas preferidos e uma pessoa extremamente afável, um gentleman de Yorkshire, região dos PARADISE LOST. Já nos aconteceu ter um público mais parado, como o público belga, alemão ou o inglês. Ter outros que são bastante loucos como o público sul-americano, por vezes o português, o norte-americano. Comecei a pensar se realmente faz sentido falar dessas coisas, porque na verdade, depois do concerto feito, vieram vários elogios pela internet e mesmo pessoais para quem se cruzou com a banda ou com os PARADISE LOST. Parecia que as pessoas estavam a passar um sábado um bocado frio. Tem um pouco a ver como as pessoas sentem a música e a entendem. Também já me vou deixando disso, ver muita gente agitada é sempre bom, mas também passa por quem sente mais, se o tímido, se o extrovertido.

Foi esta a lição que retirámos de Newcastle, mesmo que ao músico pareça dar um pouco mais de trabalho. Tanto para nós, como para os PARADISE LOST, foi uma noite excelente, casa repleta e com pessoas a reagirem à música de forma diferente, muito british. É mais uma das histórias que partilhamos com a banda com que estamos; o Waltteri Väyrynen, baterista finlandês que gravou os últimos álbuns, é um grande fã nosso, vindo sempre ver os nossos concertos. Partilha-os nas suas redes sociais. Estivemos a falar com ele da relação que temos com os PARADISE LOST, que passam muitas vezes por Portugal, acabando por tocarmos muitas vezes juntos. Neste reinício da vida, sabe bem e é confortável ter esta presença familiar do passado que eles são para nós.

Estão numa excelente forma, o «Obsidian» é um disco fantástico. Muitas vezes ficamos presos ao passado das bandas. As discografias grandes podem ter esse defeito, mas também possuem a virtude de se poder descobri-las ao vivo. Ontem, o Nick Holmes, antes de apresentar a «Fall From Grace», do «Obsidian», referiu-se ao “álbum novo que já não era novo”, naquele típico british humor.

Dia 3 – KK’s Steel Mill, Wolverhampton, Inglaterra
13 de Fevereiro de 2022

Em Wolverhamptom tocámos provavelmente na melhor venue em que já estivemos na Inglaterra, a KK’s Steel Mill. Com grande som, grandes condições. Por ser domingo estava uma casa menos composta, mais vazia. Tivemos uma banda muito interessante a fazer o suporte, ALUNAH, na tradição do doom stoner metal dos CATHEDRAL e dos próprios PARADISE LOST. Som característico destas bandas inglesas que são muitas, embora só nomeie estas duas que me são mais próximas. Depois fomos nós para o palco e tivemos condições para fazer um concerto bastante bom. Estar a tocar várias datas seguidas é muito melhor que ensaio. Ganhamos automatismos, ritmo, sem perder o feeling e também sabemos como dispor as cartas do nosso baralho e jogar as mãos, apesar de termos um setlist “limitado”, vamos trocando as posições de algumas canções.

Tivemos também a presença de alguns portugueses que não estão só no clube de futebol e foi uma noite bastante boa e curiosa. Hoje estamos em Nottingham, pelo caminho paramos apenas para dizer olá ao bardo, o Shakespeare, cuja casa ainda permanece de pé, em Stratford-upon-Avon, uma cidadezinha pequenina, não muito longe daqui. Amanhã é o nosso primeiro dia de folga de uma tournée britânica em todos os sentidos, com públicos “difíceis”, por conquistar e com gente que não conhece MOONSPELL e outra que conhece e nos dá os parabéns. Estamos a fazer um trabalho bem feito e é bom estar a acontecer debaixo da proteção dos PARADISE LOST , que para lá de serem uma banda fantástica, nos têm acarinhado muito. Esta irmandade faz falta e tem oleado as rodas deste mecanismo.

Os concertos também estão a voltar a Portugal. Sabemos que houve um concerto especial no RCA, tributo solidário à nossa amiga Suzy Lorena, o que é óptimo, não nos esquecemos dela. E espero que hajam muitos mais concertos, porque Portugal não se pode limitar aos campos de futebol e do Big Brother e dessas coisas todas. Sou crítico porque Portugal visto de longe, aparece muitas vezes sob uma luz não muito convidativa. É tempo da cultura e, no nosso caso do heavy metal, de trazer alternativas às pessoas, como já tem acontecido aqui no Reino Unido. Tenho percebido aqui, talvez por tocar todos os dias, o lugar que MOONSPELL tem na vida, no coração das pessoas, e no mundo do heavy metal. Um abraço e até amanhã.

Fernando Ribeiro

PS: Umas excelentes fotos do Aires Pereira no concerto em Wolverhampton, cortesia do ARTUR TARCZYMIL: