NINHO DE RATTUS #72

La Nostra Força Discos é uma nova editora e promotora catalã, que se tornou a bandeira de uma nova vaga da cena skinhead da Catalunha. Depois da compilação «La Nostra Força» que juntava num mesmo LP os Dying Breed, Fightback, Exili e Reconquesta num disco bastante coeso de granadas oi!, é lançado «The Last Of A Kind», o primeiro álbum dos Dying Breed, que contam nas suas fileiras com caras conhecidas provenientes de outras bandas como The Upset ou Reconquesta. Oito temas streetpunk, cantados em inglês, contrariando a maioria das bandas oi! provenientes da região e até mesmo os seus primeiros temas cantados na língua nativa. Guitarra cerrada, secção rítmica com embalo e um espírito de rua que é como o algodão, não engana.


Vindos do outro lado do Atlântico, os Vis Vires e os Lvger uniram forças para um split single com edição da Contra Records, The Firm Records e Mister Face Records.  O lado A coube aos Vis Vires com o tema «Battles», sem dúvida o lado mais atractivo do disco. Música forte do colectivo Oi! de Los Angeles que alberga membros de The Templars, Hardknocks e Bovver Wonderland. Muito peso nas guitarras e voz, música densa e envolvente com leads nos lugares certos. A agulha salta e ficamos com água na boca esperando por mais. No lado B os Lvger com o tema «Break Into Hell» parecem ter abandonado de vez os ingredientes mais punk para uma abordagem cada vez mais metal com laivos doom, guitarras arrastadas e solos a gritarem em tons vindos do inferno.


A activa Mendeku Diskak tem lançado, a partir do seu HQ no País Basco, algumas das melhores bujardas punk dos últimos tempos. Do seu catálogo fazem parte os mexicanos Mess, que lançam agora o single «Traidores». Apelidados de os “Blitz do México”, são uma das novas promessas do punk/oi! com o seu som característico repleto de hinos streetpunk. Neste single temos do lado A, a música que dá nome ao disco, «Traidores», e do lado B «Excuses». Dois temas catchy com as tais guitarras a la Blitz e um som muito oitenteiro. Um belo aperitivo para o álbum que rebentará a seguir.


Falando em actividade, os aveirenses Booby Trap não param! Desta vez decidiram editar um registo ao vivo: «Live At MTV», sendo que MTV se refere a Metalpoint TV, dado que o registo foi gravado durante o primeiro confinamento e transmitido online para angariar fundos para a referida sala. Dada a qualidade da gravação surgiu a ideia de prensar em vinil os onze temas, por entre clássicos da banda como «Overloaded» ou «Stand Up And Fight» e versões descontraídas como «Ace Of Spades». Uma boa peça de colecção para quem segue os Booby Trap, já sabendo o que pode esperar: crossover com muito suor e dedicação, guiado pelos riffs de Wild Bull e a voz de Pedro Junqueiro sempre a rasgar pano.


Voltando aos EUA para pegar no LP de Savageheads, uma das bandas do momento. «Service To Your Contry» foi lançado pela Social Napalm e contém treze bombas sonoras com o tanque cheio de hardcore rápido e larachas de punk UK82. Riffs frenéticos influenciados por clássicos como GBH, Abrasive Wheels ou The Partisans, com sotaque de Boston. Aquela guitarra com a distorção manhosa que torna a imperfeição em algo perfeito. Punk! Punk! Punk!


Para encerrar, uma referência literária ao livro «Memórias Do Rock Desalinhado» editado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Sobre o leme de Ondina Pires, trata-se de um recolher de depoimentos e histórias reais de alguns nomes que marcaram (e marcam) o nosso underground e o rock mais alienado do Portugal dos anos 80. Após uma introdução muito vaga e previsível de Paula Guerra, que não enriquece muito o livro, mas para quem é outsider do circuito talvez seja útil, temos as aventuras na estrada do extravagante Paulo Eno, da própria autora Ondina Pires, do mod Pedro Temporão, do punk A. Luís Vaz Patto, do irrequieto Victor Torpedo e da rocker Beatriz Rodrigues. Um livro bastante divertido de ser ler, com uma escrita descontraída, que acaba também por ser mais um documento para quem gosta de arquivar a história do nosso rock mais delinquente.