Os HOLOCAUSTO CANIBAL abraçam a causa vegan: “O único sangue que continuamos a aceitar ver é o humano”

Há umas semanas a LOUD! teve oportunidade de escutar o novo disco dos reis do gore nacional. Não é preciso muito, vendo os títulos da discografia da banda e mesmo a fotos de alguns eventos, para fazer piadas fáceis sobre sangue e tripas, violência e entranhas. Foi por isso com surpresa que se descobrimos uma banda com uma atitude renovada. Durante a longa conversa com os elementos do grupo, já após a audição do novo disco, a temática descaiu para o impacto que a pesquisa para o conceito do álbum teve no grupo. O “disco semi conceptual”, na expressão do guitarrista António C., resulta de apenas alguns temas se inspirarem na tradicional “matança do porco”. «Apresto Executório», «Aniquilação Suídea» e «Ávida Tragação» são as malhas que compõem a «Ode Porcina», que documenta um ritual tão luso. Daqui, parte-se para outros temas, influenciados por um folclore nacional com o seu lado grotesco. É uma espécie de recensão musical de um museu das atrocidades zoológicas, com cariz lusitano, a que não falta, obviamente, a «Ode Taurina», em dois andamentos.

O baixista Zé Pedro, contou, na altura, que a ideia tinha “surgido a partir de uma fotografia” alusiva à tradicional matança do porco. Acontece que a tal foto, associada à investigação, proporcionou ao grupo toda uma outra visão sobre a realidade e os membros do grupo tornaram-se veganos ao longo desse processo. O baixista descreve assim a mudança: “Tal como em muitas outras coisas pela vida fora, primeiro estranha-se e depois entranha-se e se não se experimentar, não se sabe! Na primeira ida ao Obscene Extreme só descobrimos que não estávamos a comer charcutaria diversa ao segundo dia, tal era a similaridade de sabores recriados e isso foi como se nos tivessem plantado uma semente ideológica que mais tarde germinaria em pleno. Tudo é um processo, como deixar de pôr açúcar no café, vais reduzindo até que já não precisas. O mesmo se passou com os instintos carnívoros de outrora que se foram dissipando, não só por uma questão de saúde, mas também por uma questão de princípio”. O músico foi mesmo o primeiro a dar o passo, entre todos.

A mudança alimentar dos músicos vai até para lá da mera decisão pessoal. O baixista, associado à organização de eventos, entre eles o PORTO DEATHFEST, a realizar este final de semana, decidiu mesmo passar a impor um catering vegano, para todas as bandas que agende. A iniciativa começa a partir já desta edição do festival. Pelo que nos toca, terminou o habitual frango assado, ou as francesinhas para agradar às bandas que vinham de fora, explica-nos ele. “Mesmo a pizza terá de ser a mais adequada”. Como promove datas essencialmente na cidade do Porto, o músico está mesmo a pensar criar uma parceria com um restaurante especializado. “Se não começar a mudança gradual, em alguma parte, nunca poderá haver mudança”, explica o guitarrista António C., também ele envolvido no processo. Os elementos da banda assumem mesmo um espírito de cruzada e alguns dos projectos em que estão envolvidos irão passar também por mudanças. Pelo menos no caso dos GRUNT, Zé Pedro, que integra a banda, planeia recorrer, no futuro, apenas a acessórios de origem vegan. Tal não ficará apenas pelo couro das botas. Na opinião do músico, “a indústria do BDSM é das mais conscientes no que trata a crueldade com animais e praticamente todos os artigos de couro, já há muito foram substituídos por opções de origem não animal”. “Para nós, o único sangue que continuamos a aceitar ver é o humano”, conclui o músico.