Ouve-se mais música “nova” ou música “antiga”? Relatório estatístico de 2022 surpreende

Poderá ser preocupante, ou não, dependendo da interpretação que se tenha dos dados, mas a verdade é que o relatório de meio de 2022 publicado pela Luminate Data e interpretado pela Music Business Worldwide indica que, pelo menos nos Estados Unidos, onde foi feita a base do estudo estatístico, cada vez se ouve menos música nova. Vindo directamente de um período onde muitos artistas adiaram os seus novos trabalhos devido à pandemia, 2022 tem tido um fluxo anormal de lançamentos novos, mas em movimento inverso, a tendência de audição mostrada pelas estatísticas recolhidas é exactamente a oposta. De acordo com o relatório, na categoria “Consumo Total de Álbuns” da música actual gravada nos Estados Unidos para a primeira metade de 2022 – período ao qual se refere o estudo – caiu 1.4% em volume quando comparado com o mesmo período de 2021. Essa métrica é calculada relacionando 1.250 premium streams ou 3.750 streams “grátis” suportados por publicidade contra uma venda singular de um álbum. Também equivale dez compras de faixas digitais a uma venda de álbum. “Actual” é definido como qualquer coisa editada nos dezoito meses anteriores ao stream, download ou compra. Qualquer coisa para além desse período é considerada um lançamento de “catálogo”.

No relatório, a Luminate Data conta 131.3 milhões de vendas de música “actual”, praticamente menos dois milhões de vendas que os 133.1 milhões do mesmo período de 2021. Já contando toda a música, incluindo a “antiga”, ou “de catálogo”, os números totais até sobem uns saudáveis 9.3% em relação a 2021, mostrando, por outro lado a força dos lançamentos “de catálogo” no que diz respeito aos mercados tanto de streaming como de compra.

Poder-se-ia argumentar que este ano, devido à “ressaca” da pandemia, poderia ser uma anomalia estatística, mas a verdade é que o declínio, ainda que sem ser com números drásticos, já vem de trás. 2021 já tinha registado uma baixa de 3.7% de consumo de múisca “nova” em relação a 2020, por exemplo. A Luminate argumenta que uma das explicações poderá ser o peso dos lançamentos de “alto impacto”, ou seja, os mais populares/vendidos, que naturalmente têm um impacto mais decisivo nos dados finais. O mainstream, como lhe poderemos chamar dado o termo ser habitual no “nosso mundo”, tem de facto apresentado uma baixa considerável, não só de consumo mas mesmo em número total de lançamentos – de 126 neste período de 2021 para apenas 102 agora, por exemplo. Para além disso, pondo o foco em faixas individuais, a pesquisa mostra que o top 10 de faixas com mais streaming teve números acumulados de menos um milhar de milhão de plays do que, por exemplo, em 2019.

Claro que, nesta altura, em termos de música “antiga”, nos salta imediatamente à memória o sucesso recente de temas emblemáticos de Kate Bush, Metallica (ambos por causa de «Stranger Things») ou Nirvana (por causa de «The Batman»), mas esses exemplos são meramente pontuais e não fazem pesar especialmente as estatísticas. Na verdade, mais de um terço dos streams “de catálogo” até foram de música editada entre 2017 e 2019.

Quaisquer que sejam as razões, ou combinações de razões, para tal, há de facto uma tendência que devemos manter debaixo de atenção nos próximos anos, também para despistar o dificilmente quantificável efeito da pandemia nos nossos hábitos de escuta actuais. De não esquecer também que este estudo analisado diz apenas respeito aos Estados Unidos.