[R.I.P.] Faleceu MARK LANEGAN, a voz de uma geração

MARK LANEGAN, a poderosa força por trás dos SCREAMING TREES e de uma brilhante carreira a solo, isto além de ter assinado álbuns muitíssimo aplaudidos com os QUEENS OF THE STONE AGE e THE GUTTER TWINS, faleceu aos 57 anos de idade. No momento em que escrevemos estas linhas, nenhuma causa de more foi revelada. “O nosso querido amigo Mark Lanegan faleceu esta manhã na sua casa em Killarney, na Irlanda“, disse um representante de Lanegan numa declaração tornada pública há instantes. “Um adorado cantor, compositor, autor e músico, tinha 57 anos e é sobrevivido pela sua esposa Shelley. Neste momento, não há mais nenhuma informação disponível. A família pede a todos que respeitem a sua privacidade neste momento“. Recorde-se que, em Março do ano passado, o cantor descobriu-se infectado pelo Coronavírus e iniciou uma batalha que o levou a entrar e sair de coma em sucessivos momentos e mesmo a ficar temporariamente surdo. Duro como só ele, vão só sobreviveu à experiência assustadora na pandemia como relatou tudo o que se passou no livro ‘Devil In A Coma’.

Da última vez que os GUNS N’ ROSES actuaram por cá, muitos acharam deslocado aquele senhor quase monocórdico e que pouco se mexia em palco. MARK LANEGAN era a antítese do que esperaria naquela situação. Nascido a 25 de Novembro de 1964, Mark William Lanegan representava um distinto grupo de músicos que integrou o movimento de Seattle, o mesmo que mudaria a música para sempre e contribuiria para o ocaso de muito do que bandas como os GUNS N’ ROSES representavam. Os SCREAMING TREES podem ter sido o berço musical em que se deu a conhecer ao mundo, mas os QUEENS OF THE STONE AGE ajudaram a reabilitar o seu nome e garantiram-lhe uma audiência mais digna — e reconhecimento que de outra forma não teria. Tal como Kurt Cobain, Andrew Wood, Chris Cornell e Layne Staley, também Mark teve o seu calvário pessoal. Um calvário que o levou a um mergulho profundo, e que deixou sequelas. Torneou, aparentemente, os seus demónios e, nas últimas décadas, cresceu como artista, ganhando o reconhecimento possível que uma estrela do rock pode ter nos dias de hoje. Esse prestígio permitiu-lhe, só em 2021, aparecer em discos de nomes tão díspares como CULT OF LUNA e MANIC STREET PREACHERS.

Em palco era um crooner, uma mistura de Tom Waits com Nick Cave, aspirando a Leonard Cohen. Visitou-nos bastas vezes; actuou em Paredes de Coura, Lisboa, Braga e Porto. Da sua passagem por Coura, com os QUEENS OF THE STONE AGE, fica na memória a forma como entrava e saía de palco. Apenas se aproximava do microfone para cantar os seus temas e refugiava-se rapidamente das luzes. A antítese do rockstar, portanto. O talentoso cantor deixa onze álbuns a solo, inúmeras participações e muitos discos gravados com as bandas que integrou ou com as quais colaborou. Ficam também cinco livros, dois deles de 2021. No último, ‘Devil In A Coma’, relata a sua mudança para a Irlanda e a luta com um vírus chamado COVID-19m que quase lhe roubou a vida, deixando-o surdo. Com ele dançou durante meses, acabando por entrar em coma, ao que se seguiu um longo período de recuperação. Nos últimos anos, prosseguia a sua vida em Killarney, na Irlanda, onde hoje faleceu, deixando viúva a sua esposa Shelley. Mark era um sobrevivente e esses duram sempre. Até hoje.