REFORÇOS METÁLICOS: Vol. 2


ANATOMIA / GRAVESITE
«Impalement / In The Basement Of The Old House»
[Nuclear Abominations Records, 2017]

Já a findar o ano passado fui ver um arrasador concerto dos italianos Gravesite e voltei para casa com este split 7″. Isto é que é underground. Num lado, os japoneses Anatomia, a tocar um death doom muito arrastado e lento, profundamente mórbido e evocativo de um filme de terror realizado pelo Manuel de Oliveira. Guitarras muito distorcidas, voz extremamente gutural, tudo muito grave, e a lentidão da morte que tarda mas não falha. Tentei seguir a letra que está impressa no interior da capa, mas desisti porque não valia a pena… aliás, até me parece que o baterista/vocalista não está mesmo a cantar aquilo. Do outro lado os Gravesite, com um death oldschool muito mais rápido e com temática análoga, neste caso um conto de terror sobre uma casa assombrada. Um belo solo de guitarra a lembrar que apesar do estilo cru o guitarrista toca muito bem, como se pôde ver claramente em palco. Está, todavia, muito bem acompanhado, pois todos os membros são bastante bons no que fazem e tocam com a fúria da juventude. Metal muito agressivo e com tudo no sítio. Um excelente split, e memória de um excelente concerto.


CHALICE
«Chalice»
[Alone Records, 2014]

Arranjei também a versão em vinil de dez polegadas da demo de uma das melhores bandas de heavy doom metal que ouvi nos últimos tempos. Um lançamento que me agradou imenso. Uma capa simples, a preto e branco, com o Vincent Price por trás, no seu papel de Matthew Hopkins, Witchfinder General, no filme de 1968. O primeiro tema é aliás uma invectiva áspera relativa à tirania do cristianismo e a sua repressão das religiões pagãs na pessoa deste simbólico caçador de bruxas. Todos os demais temas estão igualmente plenos deste paganismo romântico, bem como o próprio visual dos músicos. Ao excelente heavy metal de «Witchfynder» segue-se o magnífico e profundamente medievalista «Gaudete» (“alegrai-vos” em Latim), numa versão luciferina e anticristã de um cântico de Natal da Idade Média que resulta espectacularmente bem. Seguem-se duas outras composições com cerca de dez minutos cada uma, que fazem com que o tempo total de música ultrapasse a meia hora – tecnicamente a duração de um álbum. Infelizmente, a banda parece estar actualmente congelada. Há cerca de um ano saiu o primeiro excerto do álbum de estreia como aperitivo, mas desde então creio que se remeteram ao silêncio total e eu nada mais consegui saber em tempo útil. Espero que não se tenham extinguido definitivamente.


CHEVALIER / LEGIONNAIRE
Split 7″
[Gates Of Hell Records, 2018]

Também me chegou às mãos este split 7″. Adoro estes lançamentos underground. Sobretudo quando são de bandas pouco conhecidas e com material fantástico, como é o caso. São duas bandas finlandesas (curiosamente as duas com nomes em Francês) e ambas soam enérgicas e poderosas, com riffs muitíssimo bons saídos do mais legítimo heavy metal. «The Greed of the Cross», dos Chevalier, é um hino que ilustra o fanatismo dos cruzados templários, a que alude a ilustração da capa do split (também ela bastante underground, como se quer). Felizmente podemos seguir as letras na folha que vem incluída e que inclui fotografias das bandas. Além da rapidez e eficácia do lado instrumental, temos uma vocalista, mais uma mulher a cantar heavy metal e a fazer um óptimo trabalho. Epic speed metal no seu melhor… e agora toca a descobrir a restante discografia, que ainda não é muita: apenas dois EPs que vou ouvir assim que puder. Do outro lado, «Born Of Ash And Blood» dos Legionnaire, magnífico tema de heavy metal, também bastante épico, com um trabalho de guitarra magnético, uma voz imponente e uma melodia majestosa. O vocalista foi aliás alvo de algumas críticas relativamente ao seu desempenho no álbum de estreia, «Dawn Of Genesis», e pode dizer-se que não terá uma abordagem clássica, mas o facto é que gosto imenso do seu trabalho neste tema. As guitarras então são fenomenais. Não que sejam super técnicas nem nada disso mas, simplesmente, têm uma força formidável. Que música! E que split 7″! Saído no ano de 2018, a provar que ainda há muito boa música para fazer, dentro do verdadeiro heavy metal.

Aqui vos deixo, por agora, estas bandas que merecem apoio e que merecem ser ouvidas… por quem as quiser ouvir. E a este propósito… quase tudo o que vai aparecendo aqui pode ser facilissimamente ouvido no Bandcamp… mas aproveitem e apoiem as bandas. Comprem os vinis, porque nada como segurá-los nas vossas mãos e pô-los a tocar no gira-discos. Fica o repto.