RETROVISOR: Led Zeppelin, «Kashmir» (MTV Unplugged, Londres, Agosto de 1994)

Como pode um grupo não activo, e sem planos de regressar, relançar a sua carreira? Como reinventar velhos temas, intocáveis, e ter sucesso? A resposta tem um nome: «UnLedded». Os responsáveis: Page, Plant e a MTV.

Em 2019, celebram-se cinquenta anos sobre o lançamento da nave mais conhecida da música: LED ZEPPELIN. Na realidade tudo começou no Verão de 1968, com o fim dos Yardbirds e a formação de um novo grupo que viria a apresentar-se na Dinamarca no Outono. O que se seguiu é por demais conhecido. Surgia uma lenda e, durante cerca de uma década, o quarteto lançou sete discos de originais, quebrou recordes, definiu a música pesada e estabeleceu raízes para um sem fim de estilos. A morte súbita de John Bonham, em 80, ditou o término do grupo, não sem haver um disco final, «Coda», de 82. Após isto, Robert Plant seguiria uma bem-sucedida carreira a solo, John Paul Jones entraria pontualmente em projectos, sempre de forma discreta. Jimmy Page, fundador, produtor de todos os discos e mentor do legado, teria alguns projectos a solo ou em grupo, como The Firm e Coverdale/Page.

Chegava-se aos anos 90, uma década passava sobre «Coda», uma caixa apresentava-se como best of e a nave voltava a estremecer. Por essa altura, a MTV convidava Robert Plant para um dos seus programas Unplugged e, no processo, Page reunia-se, sem convidar Jones. O habitual formato simplista era subvertido pela grandiosidade a que a dupla a todos tinha habituado. O estúdio revelava-se pequeno e o duo impunha uma viagem a Marrocos onde se deixaria guiar por uma “orquestra” local, actuando no meio das ruas. Outra viagem até ao País de Gales. Tudo se redefinia e subvertia, «The Battle Of Evermore», um tema sobre a eterma luta entre o bem e o mal, em que tinha participado a vocalista folk Sandi Denny, ganhava uma dimensão de world music com a participação de Najma Akhtar, naquele que é um dos melhores momentos do concerto. Mas o verdadeiro momento é, na realidade, «Kashmir».

Originalmente no lado dois do duplo «Phisical Grafitti», de 1975, «Kashmir» tem cerca de oito minutos de duração, mas aqui, como habitual com o colectivo, cresce para mais de doze e tudo é redefinido, ganhando uma nova roupagem que lhe dá toda uma dimensão épica e torna um melhor tema que antes. Um dia Page referiu que os temas dos discos eram apenas esboços de algo que depois iria ser desenvolvido ao vivo, «Kashmir» tornou-se o perfeito exemplo disso. Esta música, construída a partir de um uptempo de Bonham, tinha-se tornado um favorito nos concertos ao vivo, mas nesta actuação, num mesmo tema, o duo juntava, para lá dos músicos de rock, a London Metropolitan Orchestra e a Egyptian Orchestra. Um solo de violino era introduzido aos quatro minutos e, neste cruzamento de estilos, se fazia jus à estrofe “I’m a traveler of both time and space” da letra do tema.

O concerto daria depois origem a um disco, «No Quarter», uma digressão, um disco de estúdio, o não tão bom «Walking Into Clarksdale», e um DVD, «No Quarter – UnLedded». Mas a década estava marcada, a nave voava de novo e periodicamente Page voltaria às edições, mantendo os fãs sempre saciados com novos conteúdos. E de um grupo cuja carreira se encerrava, voltava-se à ribalta e às edições.