O «Irreligious», dos MOONSPELL, faz hoje 27 anos.
Na realidade este clip não é apenas um tema só por si, mas também uma entrevista e a qualidade é péssima, mas vale pelo documento e retrato que faz de um momento. Estamos a 28 de Julho de 1996, o local é a sala Soundgarden, em Dortmund.
Cerca de uma dezena de portugueses assiste, num espaço repleto de alemães, ao lançamento oficial do 2.º álbum dos MOONSPELL, «Irreligious». Um promotor explica-me que, umas semanas antes, os Slayer tinham tocado na mesma sala para menos pessoas. Ignoro um pouco a informação, pois é função do promotor evidenciar os pontos altos do artistas que promove.
Os meses passam e o disco prossegue o seu caminho, o programa televisivo Metalla, à época o mais popular no campo do heavy metal, faz um especial a partir de Lisboa, com o quinteto a mostrar a capital, antes de Anthony Bourdain a ela ter chegado. Tudo normal, dentro da forte promoção a que o trabalho estava sujeito e que até influenciou a cor da capa.
A percepção do sucesso fora de portas chega um ano depois, aquando de um reportagem no festival With Full Force, um dos mais fortes eventos nesse Verão europeu. O programa escolhe os MOONSPELL para realizar uma entrevista e captar imagens ao vivo — e é nessa reportagem que se percebe, aos três minutos, com uma clara imagem do público, como o colectivo tinha realmente cravado o seu nome na galeria de artistas internacionais em franca expansão.
Nesse cartaz o With Full Force integrava nomes tão aplaudidos como Type O Negative, Manowar, Saxon, Dimmu Borgir ou Rammstein, numa época em que ainda se podia ver todos os nomes presentes a tocar ao vivo, em lugar das dezenas actuais, espalhadas por uma mão cheia de palcos em que realmente apenas se veem meia-dúzia de grupos.
Também na entrevista se percebe que já havia ali um profissionalismo, sobretudo na forma como os músicos nacionais lidam com um momento complexo, mas também como se situam no enquadramento musical; em resumo, como se viam e percebiam já naquela altura.
Depois deles, já outros grupos nacionais chegaram a festivais de grande dimensão, as digressões de pequenos bares normalizaram-se e as edições internacionais são banais, mas chegar a este ponto, mais de duas décadas depois, ainda continua a ser inatingível, por muito que os detractores o tentem desvalorizar.
A foto do cabeçalho é do Daniel Jesus / Música em DX