O death metal será um dos estilos menos referidos no RETROVISOR, o que até pena, pois tem produzido dos resultados mais estranhos que se podem encontrar pela internet. Nenhum outro género do metal valoriza mais o underground, seja lá isso o que for. Mesmo que cada elemento, no fundo de um negro coração, peça para que a sua banda tenha mais reconhecimento, o underground será sempre algo que está em primeiro lugar. A necessidade de estar presente num evento, a militância, ultrapassa mesmo a religiosidade fervorosa do black metal — um estilo que, por vezes, prefere o isolamento. Essa ambiguidade, entre a procura da fama, e a necessidade de estar longe dela, é, talvez, uma das maiores características do género e dos seus fãs. É observar uma velha entrevista com David Vincent, e o entusiasmo com a popularidade crescente do género, mesmo antes de arrancar para uma «Fall From Grace», filmada a partir do público, como devem ser as boas gravações de death.
O segundo álbum dos MORBID ANGEL, é um dos mais icónicos e populares do estilo e permitiu-lhes uma visibilidade nos media da época que nomes como GOREFEST ou HIPOCRISY, deste lado do Atlântico, e CANNIBAL CORPSE ou DEATH, do outro lado, não conseguiam ter. Talvez por isso, ainda recentemente conseguiram ser referidos no Jeopardy, célebre concurso da TV norte-americana. O vídeo que acompanha a faixa título é um clássico, a letra um hino, “Blessed are we to taste/This life of sin”. Neste disco, nesta letra em particular, faz-se a ponte perfeita entre o extremo do death e a filosofia subjacente ao black e a muito do heavy metal em geral. Abraça-se a transgressão, a rejeição da normalidade. Curiosamente, essa faixa, como muitas de death, são daquelas que hoje infestam serviços de streaming e permitem a um qualquer deathster publicar num momento uma faixa extrema, celebrando a morte, a violência e outras atitudes limites, e logo a seguir uma foto sua com o animal de estimação, declarando o amor incondicional pela criatura.
É esta bipolaridade que se torna mais gritante com o death que com outros estilos, menos agressivos nas letras ou no som. Falando em agressividade, o vídeo, também filmado do público, resulta pelo lado monolítico que o grupo emprega na postura em palco, característica de muitos grupos do género e que ainda hoje faz escola. «Blessed Are The Sick», a faixa e o disco, verdadeiros clássicos, mesmo que vazios de luz e assim permaneçam!
