RETROVISOR: Mr. Bungle, «My Ass Is On Fire» (Bizarre Fest, Flughafen Niederrhein, Alemanha, 19 de Agosto de 2000)

A notícia já tem um par de semanas. Fala-se claro, do regresso dos MR. BUNGLE. Daqui a poucos dias cumprem-se dezanove anos sobre a última actuação do grupo, mais propriamente a 9 de Setembro. Portanto, esta edição do RETROVISOR situa-se entre os dois momentos. Dias antes do último concerto, a 13 de Agosto, encerravam uma edição do Festival Paredes de Coura, no que era também um fechar de ciclo, pois dos vários projectos associados a Mike Patton, este era o primeiro com notabilidade e o último que tocava por cá. FAITH NO MORE, TOMAHAWK e FANTÔMAS já cá tinham passado no período entre o primeiro e o último disco dos MR. BUNGLE.

A questão que muitos terão feito, é “quem é MR. BUNGLE?” A mesma pergunta foi feita pelo escriba, décadas atrás, quando numa pequena loja de uma cidade alemã, viu o disco em destaque, sobrepondo-se mesmo aos dois volumes de «Use Your Illusion» editados quase no mesmo momento — esta era a dimensão da importância da banda já por essa altura. Foram três discos apenas, oito anos entre o primeiro e o último, mas verdadeiras pedradas no charco, graças ao melting pot sonoro que o colectivo apresentava. Escrito poderá parecer estranho, mas sem os MR. BUNGLE dificilmente se poderia pensar em muitos dos nomes de happy grind que hoje circulam por aí, pegando logo nos SERRABULHO só a título de exemplo. Quem gosta dos MR. BUNGLE não poderá afirmar não gostar de happy grind.

Escute-se este «My Ass Is On Fire», ou melhor, visualize-se, pois além do caos sonoro, os MR. BUNGLE transportam também um caos visual que só encontra paralelo em FRANK ZAPPA e nos seus MOTHERS OF INVENTION, hoje algo esquecidos. A maneira delicada como Patton canta “Impotence…” após o primeiro minuto, acompanhado de um gato preto empalhado, nas teclas, simboliza muito. Da mesma maneira que gentilmente ameaça esfaquear alguém. Alguma vez caminharam com alguém que, a cada passo, informa poder ir-vos atirar com um saco pesado à cabeça? É esse mesmo tipo de insanidade que atravessa este tema, ou outro qualquer dos MR. BUNGLE, agravado pelas capacidades vocais de Patton e a musicalidade exímia dos restantes instrumentistas. Os MR. BUNGLE eram uma permanente dança no arame suspenso, que depois, como neste tema, termina com uma ameaça “Don’t you fuckin’ look at me”, seguida de um “Obrigado”. No fundo, os MR. BUNGLE em todo o esplendor do seu caos.