RETROVISOR: The Rolling Stones, «Sympathy For The Devil» [Altamont Speedway, Livermore, Califórnia, 6 de Dezembro de 1969]

Ensina a história que décadas, séculos ou mesmo milénios, não se encerram ou iniciam no primeiro de Janeiro respectivo. Melhor exemplo que o securitário séc. XXI, que apenas se iniciou a 11 de Setembro de 2001? Pois, na música também se passa algo do género, e se 1969 foi o ano em que despontaram os primeiros discos de um género que se tornaria massivo, o hard rock, também se encerrava a década da pop, do movimento hippie e de uma certa inocência, na forma de agir e promover a música. Claro que o “Colonel” Tom Parker já tinha escrito toda uma cartilha, enquanto manager de Elvis, e em 1969, Peter Grant já se assumia como “génio do mal” e verdadeiro quinto elemento dos LED ZEPPELIN. Porém, de maneira geral tudo navegava ainda em ingenuidade, paz e amor, mistura sempre explosiva. Depois do sucesso inesperado de Woodstock, os ROLLING STONES quiseram criar a sua versão na costa Oeste dos Estados Unidos.

Altamont. 300 mil pessoas estiveram presentes, mas toda a construção do festival foi pouco profissional e repleta de erros. Um Fyre Fest antes do tempo, diriam hoje alguns. No balanço final, um documentário que merece ser visto, «Gimme Shelter», e quatro mortos. Todos os mortos têm, como é óbvio nome, mas Meredith Hunter, destaca-se naturalmente. O jovem de 18 anos reagiu a uma discussão, agitando um revólver e rapidamente foi morto à facada por um dos seguranças do evento, como se percebe aqui. Seguranças, que eram na realidade a crew local dos Hells Angels, os quais já antes tinham batido no vocalista dos JEFFERSON AIRPLANE. Altamont marcaria um antes e um depois na segurança de eventos, tal como a 5 de Junho de 1988, com a morte de dois fãs durante uma actuação dos GUNS N’ ROSES no festival de Donington a ditar também novas regras.

No vídeo desta edição do RETROVISOR, pode perceber-se como tudo pode estragar a alegria dos fãs, na realidade a razão última de um concerto, e arredar estes dos espaços. Também se mostra a necessidade de barreiras, forma de evitar invasões de palco, permitir o trabalho de fotógrafos e segurança, criando um bom ambiente para todos. O contrário leva a fenómenos como o recente Knotfest no México, noticiado pela LOUD! ainda esta semana. Don McLean escreveu, de forma algo críptica, sobre Altamont, numa música famosa que intitulou «American Pie». Para ele, esse 6 de Dezembro, sobre o qual passam hoje cinquenta anos, foi aquele em que a “música morreu”. Infelizmente outras datas poderiam ser assim marcadas, como a de 19 de Março de 1982, em que num dos acidentes mais bizarros do rock, Randy Rhoads, curiosamente nascido a 6 de Dezembro, viria a falecer. Ou então, o 8 de Dezembro que se aproxima. Data duplamente negra, seja pelo assassínio de John Lennon, em 1980, pelas mãos de um Mark Chapman obcecado por «Catcher In The Rye», seja pelo assassínio de Dimebag Darrell em 2004.

Aqui se volta ao início: não terá o metal, como visto nos anos 80 e 90, morrido naquela noite de 2004, no Alrosa Villa? Ou apenas terá começado aí o séc. XXI no metal? Questões à parte, é com Altamont que se encerra a coluna RETROVISOR. Última edição. «The End» tal como Manson reinterpretou recentemente o tema dos Doors, imortalizado em «Apocalypse Now». E fica já a promessa de não haver “reunion”!