ROSS THE BOSS + DARK EMBRACE + COBRA SPELL @ RCA Club, Lisboa | 27.04.22

Não deixa de ser sincronismo poético que ROSS THE BOSS, o guitarrista original dos MANOWAR, visite o nosso país quando a sua antiga banda está agendada para comparecer no Laurus Nobilis também este ano. Para muitos, a melhor era dos auto-proclamados Kings Of Metal foi mesmo quando Ross Friedman fazia parte da formação. Décadas passaram, mas esses anos iniciais permaneceram na memória de muitos e são incontornáveis na história do heavy e do power metal, pelo que é natural que o seu trabalho a solo reúna interesse nesta altura. Interesse que não esmorece pelas frequentes passagens pelo nosso país, e neste caso até aumentado por vir acompanhado pelos DARK EMBRACE e pelos COBRA SPELL, o que foi garantia de uma boa noite de metal – ainda que os primeiros não encaixem assim tão bem neste cartaz. A noite começou com os/as COBRA SPELL, a nova sensação do underground do heavy metal que também tinha suscitado bastante curiosidade entre os fãs do estilo. Ao vivo, a banda apresentou-se com a espanhola Kris Vega na voz, que tem substituído Alexx Panza nesta série de concertos, e podemos dizer a prestação foi tão natural que até custa acreditar que não é esta a verdadeira formação da banda. Apesar de não ter nenhum álbum lançado, o concerto concentrou-se nos dois EPs existentes, e ainda houve oportunidade para uma inspirada cover dos W.A.S.P., «Animal (Fuck Like A Beast)». O burburinho à volta da banda é justificado com bom heavy metal e compreende-se perfeitamente Sonia Anubis ter saído das CRYPTA para se concentrar totalmente em COBRA SPELL.

Com uma casa ainda a encher, chegou a vez dos DARK EMBRACE, banda já habitual nos palcos nacionais. A primeira coisa visível foi de que os galegos estavam algo desajustados neste cartaz, ainda que o seu death melódico tenha muitos pontos de encontro com as sonoridades tradicionais. Apresentaram-se sem baixista, e com o recurso a pistas pré-gravadas, deambularam pelos seus dois álbuns gravados, chegando até a tocar um tema novo, que será incluído no próximo trabalho de estúdio. O melhor viria mesmo com as rendições dos temas já habituais nas suas actuações, «Dark Embrace» e «Metalhead ‘Till I Die», com esta última a colocar um ponto final na actuação. Fica a expectativa de os voltar a ver num contexto mais apropriado e com um novo trabalho nas mãos.

Chegava o momento da noite, aquilo que todos esperavam, e o entusiasmo foi visível e audível assim que ROSS THE BOSS e a sua banda foram entrando em palco (com a surpresa de Dirk Schlächter no baixo a substituir Mike Le Pond). O início foi logo para não deixar dúvidas em relação ao que vinham. Com «Blood Of The Kings» a abrir, ficava logo claro que o alinhamento ia ser quase totalmente concentrado na obra de Friedman com os MANOWAR. E que também ninguém estava aborrecido com isso, a avaliar como hinos como «The Oath» e «Sign Of The Hammer» foram cantados em uníssono pelo público. Pelo meio foram tocados temas da sua carreira a solo e os mesmos também foram bem recebidos, mas sabemos que o público é rei e senhor e que todos estavam lá para ouvir os clássicos. «Denied By The Cross», «Glory To The Slain» e «Maiden Of Shadows» foram a lembrança de que havia um álbum a justificar a digressão — «Born Of Fire» –, mas o sangue ferveu mesmo foi com rendições de «Wheels Of Fire», «Blood Of My Enemies», «Kill With Power» e «Hail And Kill» que foram recebidas de forma emocional por um público ávido por mais. É por aí que se avalia a validade das constantes digressões da banda do lendário guitarrista. Pode-se dizer que é um exercício de nostalgia e que os discos são apenas uma desculpa para estes concertos. Mas o que é inegável é a forma como o público recebe estes clássicos, e esta noite no RCA Club foi o exemplo perfeito de que o heavy metal no geral, e os clássicos dos MANOWAR em particular, continuam a ter sempre o seu público fiel, independentemente de quantos anos passem.

Fotos: Sónia Ferreira