SACRED SIN: “Há muitos festivais, mais gente a organizar coisas. É óptimo e vai fazer dar mais alento às bandas novas.” [entrevista]

Oficialmente saiu a 29 de Julho deste ano, mas só agora tem a sua festa de lançamento. Fala-se do novo álbum dos Sacred Sin, «Storms Over The Dying World», que já criticámos nestas páginas. O disco, com edição da Lusitanian Music, vai ter o concerto de apresentação já hoje, 24 de Setembro, no RCA em Lisboa. Para falar sobre aquele que é o sétimo longa-duração do quarteto de thrash/death, a LOUD! reuniu Zé Costa, baixo e voz, junto com os guitarristas Tó Pica e Luís Coelho.

Porquê este título?
Zé Costa: Normalmente discutimos um pouco os títulos. A ideia é que tenha sempre a ver algo a ver com o contexto geral do disco, como foi esta opção. Depois é evidente, não só pelo grafismo, como tudo que está associado ao disco. Já antes de gravarmos andávamos à volta de dois títulos e depois acabámos a decidir-nos por este, para ter um conceito para a capa. Podemos dizer que a escolha tem mais a ver com o lado lírico e estético, que propriamente com o lado musical.

Fiquei com a sensação de ser gravado ao longo do tempo, pois havia concertos pelo meio e só podiam usar alguns fins de semana.
ZC: Foi feito no nosso tempo livre. Quando começámos a gravar foi em Junho do ano passado, com as baterias. O plano era avançar durante o Verão com o máximo de gravações possíveis. Claro que o processo de misturas ia durar mais um tempo. O plano de editar no final de 22, ficou logo de lado, até porque toda a indústria estava atrasada. Não havia pressas, por isso fomos fazendo as coisas no nosso tempo livre.

Eles iam ao fim de semana e deixavam-te trabalho para o resto dos dias
Tó Pica: Grande parte do trabalho foi no meu home studio, que tornou tudo mais fácil. Trabalhava a semana toda, mas eles também, porque conforme as coisas ficavam prontas, ou eles lá estavam ou iam ficheiros. Foi feito por tranches, com tempo. A coisa boa foi ter tempo para marinar. Ouvir, deixar respirar um bocadinho e voltar a escutar para ver o que se mudava. Foi feito em fases, não só ao fim de semana. Por mim acho positivo ter esse tempo, por outro lado, não tens um deadline, ou era relativamente longo. Quando tens a vantagem de ter o estúdio e poderes experimentar, em que só a tua vida pessoal dita o tempo que lá podes estar, pode ser prejudicial ou vantajoso. Quando estás a pagar um estúdio, tens aquele tempo limitado e centrar só naquilo. A bateria não teve nada a ver comigo, foi gravada pelo Bruno, no Rock’N’Raw, e em fins de semana. O resto não, mas feito por partes e com tempo, sem pressão.

Duas guitarras em Sacred Sin não é novidade, mas sente-se um disco mais forte em termos de guitarras. Isto resulta do som dos dois ou de seres produtor e guitarrista?
TP: Ele como é o guitarrista, mete tudo para cima [risos]. Acho que calhou, em termos de produção tentei equilibrar. Por norma, acho que a bateria é o mais difícil de fazer um bom som. Se a bateria não tem um bom som, mesmo que tenhas em tudo o resto, o álbum não vai soar grande coisa. Modéstia à parte, acho que sempre tive um som de guitarra forte, ou sempre procurei um som forte. Não se pode comparar muito com as produções de agora. O meu som não tem tanto brilho e tantos agudos, está nos médios. É a frequência da guitarra, não é os graves. Não tens de estar a combater nem com o baixo, nem com os pratos da bateria. Como sou daquela escola de UFOs, Michael Schenkers, e George Lynch, em que o som de guitarra está no sítio dele, nos médios, faz parecer que pareça maior. É o que chamo o som gorila. O truque todo é usares o menos distorção possível, menos drive possível, e depois uma acção alta nas cordas. O resto é teres uma mão pesada. Felizmente, o Luís é da mesma escola que eu. Não o obriguei a ser. Acho as produções actuais demasiado clínicas, frias. O som de guitarra deve ser carne sem osso, e o de hoje, acho muito osso. Acho as produções hoje, muito frias, anoréticas. Não são todas, mas é tudo demasiado clínico. Eu gosto de ser ouvido.
Luís Coelho: O som que o Tó conseguiu para o álbum, foi um todo. Nas produções actuais, as guitarras soam muito limpinhas, bonitas, em que todos tiram um som muito igual. Gosto bastante do som das guitarras no álbum. Tal como o resto, bateria e baixo do Zé.

Ao vivo, principalmente no solo do Pica, nota-se mais esse lado dos 80s e 90s. Essas referências ajudam a soar diferentes, não?
ZC: Isso faz parte da nossa formação principal.

Não falavas de UFO…
ZC: Falávamos de Iron Maiden que lhes foram roubar as coisas. E Scorpions. Só mais tarde de death metal. É daí que vêm as nossas referências. Sou grande fã de thrash e death, mas sempre gostei de ouvir as guitarras. Na minha cabeça está esse som que comecei a ouvir. Da mesma maneira, fazem sentido os solos.
TP: Os solos têm de contar uma história e ser memoráveis.
ZC: Há muita coisa que é só despejar notas, pode até fazer sentido para alguns. Para nós, tem de transmitir alguma coisa, são um momento especial. Se não, fazíamos como muitas bandas fazem, simplesmente não metem solos. Também é válido. Nós temos músicas de dois ou três minutos com quatro ou cinco solos.
TP: O Luís tem alguns bons, que eu digo serem à Hank Shermann. Ele é o Hank Shermann da banda.
LC: O bom deste álbum, e já componho com o Tó há algum tempo, é que escutas um solo do Tó e sabes logo que é ele a fazer o solo. É uma característica dele e já no EP se sabia isso. Torna os solos do Tó muito únicos e este álbum está excelente a esse nível.

Ajeitaste um pouco a voz, aos temas, não?
ZC: Quando tens dois dias para gravar a voz, esta fica focada mais num género e sai mais linear. Nas nossas produções, por ser em casa, faço duas ou três músicas por semana. Isso permite-nos ver o mais adequado para cada tema, sem haver o compromisso de estar a berrar desta maneira ou daquela. É mais seguir aquilo que a música está a puxar. Não é um arco-íris, há cores que não se consegue chegar lá. Não sou o Bruce Dickinson, por exemplo. Vamos fazendo várias coisas e tento ajustar isso. Quem sempre me ajudou com esse processo é o Tó, que vai passando o filtro e vendo o que sai melhor. A partir do nosso segundo álbum, a minha técnica é ir sempre escrevendo letras, quando tenho ideias, para não me faltarem versos. Quando chego a altura, escolho os versos e sobra sempre muita letra. Esse processo é muito feito na altura da produção. Muitos deles vamos tocar agora pela primeira vez, dia 24.

Já deram concertos, mas apenas com um ou dois temas novos.
ZC: Sim, tocámos mais uma na última vez. O álbum já estava pronto, como é óbvio. Desde Fevereiro, altura que saiu o primeiro single.

Vocês estão a ter muitos concertos.
ZC: Não me queixo da falta de concertos, mas atenção que daqueles que demos ates de sair o disco, só dois foram marcados este ano. O resto eram pendentes que ficaram pendurados de 2020 e 2021. Ainda há datas dessa altura penduradas. Incluindo Bristol, em Inglaterra. Estivemos anunciados para o Laurus. Antes do Verão já tínhamos esgotado todas as férias e dias livres para tirar este ano. Agora só temos um ou dois fins de semana disponíveis para tocar.

Surpreendeu-vos a oferta de tantos festivais e concertos?
ZC: Agora há muitos festivais. O que me surpreendeu é ver mais gente a organizar coisas que há cinco anos atrás. É óptimo e vai fazer dar mais alento às bandas novas. Para nós tem sido óptimo.

Não há o risco de secarem as hipóteses de poderem tocar com o novo disco, já que dificilmente voltarão no ano seguinte ao mesmo festival?
ZC: São os festivais que têm de fazer essa gestão. Foi tudo marcado em 2020 e 2021, porque por acaso pensávamos que o disco ia sair mais cedo. Contamos participar em muitos desses festivais. Principalmente a norte. Temos tocado no centro e sul e contamos ir mais a norte, no próximo ano.

Sentes que os custos podem tornar a ida ao norte mais complicada?
ZC: Uma das razões pelas quais vês muitas tours canceladas, é por terem sido planeadas há dois ou três anos atrás, e os custos subiram 30%, mas não subiram cachets, nem bilhetes. Tudo aumentou e torna inviáveis muitas das tours. No nosso caso tentamos marcar o que for razoável fazer, com as condições que conseguirmos tornar operacionais. Em números, se um produtor aqui em baixo disser que tem 500 paus para investir na nossa banda, aceitamos. Se for um promotor lá de cima, a fazer a mesma proposta, metade fica logo nos custos. Se der menos, vamos tocar de borla, ou até pagar do nosso bolso.

Agora este concerto a 24, e depois?
ZC: Este é o espectáculo do novo disco, em que mais de metade é novo, ou melhor o novo disco, com um set up especial para estes concertos. Diferente para nós e também para o público. Iremos depois passar no Woodstock 69 no dia 7 de Outubro, também para apresentar o disco. Depois temos datas para agendar em Espanha, Suíça. Não vamos fazer propriamente uma tour. Será por fases, fazemos três ou quatro datas e voltamos. Ficaremos sempre a perder, mas nunca perdemos tanto e gerimos o nosso tempo e compromissos profissionais.