O rock psicadélico desceu ao RCA Club com três bandas mais que capacitadas para nos transportarem para um outro mundo. O regresso dos SACRI MONTI a Portugal começou com a data do dia anterior no Woodstock69 Rock Bar, no Porto, com os KALEIDOBOLT, e em Lisboa juntou-se a companhia dos “nossos” ITWASTHEELF, o que ainda elevaram mais a fasquia das expectativas para a grande noite de música que se viria a verificar. Foi exactamente com a banda de Gouveia que tudo começou, e não poderia ter sido de melhor forma. Os ITWASTHEELF têm nas mãos um excelente segundo álbum na forma de «Ancestors» e foram os temas deste álbum que ocuparam quase na totalidade o seu alinhamento. No início, a sala estava bastante despida, o que continua a ser um hábito infeliz mesmo no pós-pandemia — bandas nacionais de abertura com menos público que o que merecem. Felizmente não foi algo que se tenha verificado por completo, com o público a comparecer durante o concerto e ainda a apreciar temas como «Black Caravan» e «Sun», que mostram que o poder do grupo ao vivo ainda é superior do que em disco, e que está entre as melhores propostas stoner/psicadélico nacionais.

Por sua vez, os finlandeses KALEIDOBOLT já contaram com uma boa casa e bem ávida do seu rock psicadélico e bem movimentado. Quem não sabia ao que vinha, de certeza que ficou impressionado com o arsenal que este power trio usou para deixar todos em alvoroço. O preconceito diz que o rock psicadélico é algo que prende o corpo ao chão enquanto o alma e o espírito “divagam na maionese”. Pois bem, ficou provado que é possível fazer isso com o corpo a agitar-se ao som de clássicos como «Showdown», e mesmo as novidades como «I Am The Seer» e «Weekend Warrior» do mais recente trabalho «This One Simple Trick», lançado semanas atrás, resultaram muito bem. Saldo extremamente positivo e que todos os presentes quererão repetir em breve. Para terminar a noite em beleza vieram então os norte-americanos SACRI MONT, que concretizaram um concerto que já tinha sido adiado anteriormente — o que durante 2022 vai ser a nota de rodapé para muitos espectáculos um pouco por todo lado.

Com dois álbuns apenas e ainda em apoio ao mais recente «Waiting Room For The Magic Hour» de 2019, o grupo assinou um festim de sonoridades clássicas do rock que nos transportou para uma outra era, em que o rock, visceral e orgânico, era uma arte que se registava em disco mas que depois assumia sempre novas tonalidades e formas em cima dos palcos. Ataque duplo de guitarras, um baixo pulsante e uma bateria endiabrada — que até trouxe um solo de bateria que foi muito pedido/aguardado pelo público — num concerto épico que ficou para a posteridade. A boa onda e simplicidade dos SACRI MONTI tornou tudo ainda mais prazeroso. Exemplo disso foi quando alguém do público disse em tom de brincadeira “you suck“, ao que o frontman respondeu enquanto estava a afinar a guitarra “we’re Sacri Monti from San Diego and we suck!” Boa disposição e música que falava ao coração, a receita ideal para uma noite de puro rock no RCA Club.

Fotos: Sónia Ferreira