SEPTICFLESH: “Eu e o meu irmão temos sempre ‘guerras de Tróia’ que nunca acabam!” [entrevista exclusiva]

Os gregos SEPTICFLESH regressaram recentemente às edições com o seu 11.º disco de estúdio. «Modern Primitive», que sucede a «Codex Omega», editado em 2017, é um verdadeiro petardo de death metal sinfónico e a banda vai regressar finalmente a Portugal em Outubro deste ano para dois concertos, numa digressão conjunta com os HYPOCRISY, que passa nos dias 12 e 13 desse mês pelo Hard Club e pelo LAV – Lisboa Ao Vivo, no Porto e em Lisboa, respectivamente. Em jeito de antecipação, estivemos à conversa com o guitarrista e compositor Christos Antoniou, que — entre outras coisas — nos revelou que a pandemia até acabou por ajudar a banda na composição deste novo álbum.

Como muitas outras bandas, tiveram alguns problemas nos últimos tempos da pandemia — tinham uma digressão com os Carach Agren que acabou por ser cancelada, por exemplo…
Sim, tínhamos várias datas para este ano que tiveram de ser canceladas, mas estivemos ocupados com a composição do novo disco, e eu também estive ocupado com outros projectos. Para ser muito sincero, toda a banda esteve muito atarefada durante este período.

Quando começaram o processo de composição para o «Modern Primitive»?
Começámos em 2019, se não me engano. Começou tudo muito devagar, e foi um processo lento. Desta vez tivemos muito tempo para pensar, repensar e experimentar.

Como tem sido hábito nos últimos discos dos SepticFlesh, há muitas partes orquestrais. Quando compões os temas, por onde começas?
As canções que componho são feitas com a orquestra em mente e, quando componho essas partes, entrego-as aos restantes elementos da banda que depois acrescentam as partes deles, seja o riff de guitarra ou outra coisa… basicamente, a parte de metal! Mas também acontece o Sotiris ou o meu irmão [NR: o baixista/vocalista Spiros “Seth” Antoniou] terem as suas canções preparadas e eu acabar por acrescentar algumas ideias e partes orquestrais às músicas que já existem. É desta forma que trabalhamos desde o «Communion», com uma orquestra a sério, e funciona muito bem, por isso continuamos a trabalhar assim.

Um das minhas canções favoritas é a «Coming Storm», que tem um sentimento muito cinemático. Quando compões temas desse género, por exemplo, tens imagens prévias em mente que ajudam a criar a música?
Por acaso esse é também um dos meus temas favoritos do álbum, e é uma das canções mais complexas que alguma vez produzimos. Gastou muita da nossa energia, porque a harmonia “mexe-se” muito. Quando terminei o esqueleto principal e o entreguei aos elementos da banda, tivemos algumas dificuldades para adicionar as partes de metal na canção. Mas, regra geral, quando componho gradualmente tenho uma ideia para a orquestração que quero. Para mim é algo natural, componho ao piano e, depois, vou para o meu software de anotações e começo as orquestrações. É assim que funciono. Algumas ideias começam com o instrumento que quero usar, outras com quais os elementos melódicos que posso adicionar, coisas desse género.

Quanto tempo demoraste para terminar esse tema em particular, por exemplo?
Demorei algum tempo porque também somos muito exigentes e a canção é dura, é muito rápida, principalmente a primeira parte. Acho que demorámos perto de dois meses para a completar totalmente. Já tinha a base há algum tempo e demorei a desenvolvê-la… Basicamente, por causa da pandemia. Tivemos dois, três anos para compor os temas, o que acabou por funcionar bem a nosso favor porque nos deu tempo para produzirmos as novas músicas. É preciso investigar um pouco para se poder criar coisas novas, não podemos fazer logo um «Codex Omega» parte dois, por exemplo.

Há conflitos quando estão neste processo criativo de composição?
Claro! Eu e o meu irmão temos sempre “guerras de Tróia!” [risos] Nunca acabam. Se não fossemos irmãos, a banda certamente que já não existia, de certeza. Já tinha acabado há anos. Mas acaba por funcionar a nosso favor, porque a tensão traz bons resultados. Principalmente na parte das misturas, porque sou o gajo que quer que as orquestrações sejam mais proeminentes e o meu irmão quer menos. Temos grandes lutas por causa disso. No entanto, isto só acontece entre nós, com os restantes elementos é tudo tranquilo, não há problema nenhum, são todos fáceis de lidar.

Com este novo trabalho anunciaram também uma digressão europeia com os Hypocrisy, que tem duas datas em Portugal. Ansiosos com esse regresso?
Claro! Acho que a última digressão que fizemos foi em Abril de 2018… Já passaram quatro anos. Ficamos contentes por poder regressar à estrada e esperemos que a digressão aconteça, porque nos dias de hoje é difícil prever. Mas as coisas estão a melhorar, e estamos ansiosos para passar por Portugal, porque temos muitos amigos aí. É um grande pacote com grandes bandas. De certeza que vai ser divertido.

E já começaram a pensar quais as músicas do novo disco que podem encaixar no alinhamento?
Sim! Vai ser mais uma luta, mas vamos arranjar a melhor forma para resolver esse conflito. [risos] Logo se vê… Temos algumas ideias, mas devemos tocar entre três a cinco músicas novas. Vamos esperar para ver como as coisas correm.

E depois há temas que os fãs quase vos obrigam a tocar…
Como nos focamos mais no segundo período da carreira dos SepticFlesh, temos menos discos e temas por onde escolher do que se poderia pensar. Mas é bom saber que os nossos fãs têm músicas preferidas, isso é uma boa dor de cabeça para se ter. Mas claro que o nosso foco vai ser promover o novo disco de estúdio.

Em 2019 tocaram no México com uma orquestra. Como foi essa experiência?
Trabalhei extensivamente com o produtor, que era um músico do coro, e tivemos longas conversas com o maestro para tentar resolver quaisquer questões que pudessem surgir antes do ensaio geral. Para ser honesto, não me diverti muito, porque era o arquitecto de todo esse concerto. Foi um projecto tão complicado, e ainda por cima gravámos para DVD… Os meus níveis de ansiedade estavam nos píncaros. Só me diverti quando terminou e percebi que tinha corrido tudo bem e não tinha havido problemas nenhuns. Mas foi muito complicado. Houve muita gente envolvida, tanto para a parte da orquestra, como para a parte do metal, câmaras, luzes… enfim, um erro podia deitar tudo a perder, mas felizmente não houve problema nenhum.

Apesar do stress, gostavas de voltar a repetir a experiência, num festival por exemplo?
Claro! Em Setembro, vamos tocar num grande festival no México e temos tido muitas ofertas de outros festivais, mas vamos ver. Certamente que essa não será a única vez que vamos tocar em palco com uma orquestra.