SODOM: «Agent Orange», um dos títulos definitivos do thrash germânico

Os SODOM são muitas vezes considerados os MOTÖRHEAD alemães, não só devido à fixação do vocalista e baixista Tom Angelripper com Lemmy Kilmister, mas sobretudo pela consistência do seu fundo de catálogo. No entanto, poucos são aqueles que podem negar que o «Agent Orange» foi o álbum que solidificou os músicos como os titãs teutónicos nos anais da história do thrash. Décadas depois, os fãs da banda parecem ainda não se ter decidido em relação a qual é o seu álbum definitivo… Será o «Persecution Mania»? Ou o «Agent Orange»? Ambos são, de facto, exemplares no seu posicionamento na encruzilhada entre thrash e death metal, e ambos são ataques brutais aos sentidos. Dito isto, pode argumentar-se que o terceiro longa-duração é ligeiramente superior por duas razões essenciais. Primeiro, a produção neste disco é francamente melhor, muito graças à mestria de Harris Johns. Os músicos tinham à disposição um orçamento maior e, com a ajuda do produtor veterano, foram capazes de continuar a explorar os elementos que os tornaram famosos, mas o som geral revelou-se francamente mais cheio, pesado e punitivo – especialmente ao nível da baterista, com um Chris Witchhunter demolidor. Depois, este foi o segundo álbum do trio com Frank Blackfire na guitarra, sendo que o longo período de digressão que antecedeu as gravações acabaram inevitavelmente com cimentar a química entre os três músicos.

Quando foi lançado, a 1 de Junho de 1989, o «Agent Orange» foi imediatamente reconhecido como um clássico e percebe-se facilmente porquê. Apostando numa composição mais afiada e em dinâmicas mais elaboradas, o disco reúne todas as características essenciais de um petardo de thrash clássico, feito de vocalizações guturais, riffs cortantes, blastbeats viciosos e letras fortes e políticas. Aliás, o facto de tantas destas canções se destacarem na longa e distinta carreira dos SODOM é, de resto, uma prova inequívoca, da qualidade do álbum como uma experiência de escuta completa. O tema-título, «Tired And Red» e a polémica «Incest» apostam forte na ferocidade, reforçada nas linhas de baixo de Angelripper, mas a banda não se fica apenas pela devastação, com temas como «Remember The Fallen» e «Ausgebombt» a revelarem uma apetência para a criação de refrões e ganchos orelhudos, daqueles que perduram. Resultado, os fãs vão inevitavelmente continuar a debater os méritos da produção antes e depois deste álbum — os primeiros trabalhos, por exemplo, são até hoje adorados pelos obstinados pela estética “trve kvlt” –, mas qualquer visão objectiva da carreira dos SODOM terá de declarar o «Agent Orange» como um álbum de thrash fenomenal, que agita com orgulho a bandeira da tradição germânica do género.