SUPERSUCKERS: À conversa com Eddie Spaghetti [entrevista]

A carreira dos SUPERSUCKERS tem sido atribulada: começaram como mais uma aposta da SubPop, converteram-se em rebeldes do rock, tornaram-se missionários da country e o seu fundador, Edward Carlyle Daly, também conhecido como Eddie Spaghetti, enfrentou um cancro logo após o lançamento de «Holdin’ The Bag», em 2015. Recuperado, gravou «Suck It», em 2018. O grupo passa hoje, quarta-feira, dia 26 de Fevereiro por Portugal, para uma actuação no Barracuda, no Porto.

Este novo disco chama-se «Suck It». Porquê este título?
Porque certas pessoas deviam «Suck It». Apenas necessitam de o meter na boca e chupar. Todos.

Mas quem? Falas da indústria da música?
Também, eles também deviam chupar.

Há três anos que não editavas um disco, exactamente desde que te surgiu o cancro. Como estás hoje?
Estou bem, a minha saúde está boa e regressei ao normal. Está tudo bem.

Mas como é que o diagnótico e a doença te afectaram?
Afectaram-me de diversas formas, algumas físicas. Ainda sou seguido por um médico, mas estou de volta a 100%.

Geralmente é uma fase em que as pessoas se tornam um pouco mais introspectivas e mudam a sua forma de ser.
Sim, nunca pensei que fosse morrer, estive sempre bem cuidado e achei sempre que tudo ia resultar bem, o que de facto aconteceu. Foi uma questão de ter pensamento positivo, acho.

E talvez pensares em quando podias regressar aos concertos.
Sim, isso estava sempre na minha mente. Sabia que não ia abandonar o que fazia e estive atento a isso, até porque tenho um trabalho que amo muito. A música é algo que me obriga a estar dedicado e entregue a ela.

Nestes três anos deves ter tido tempo para compor muitos temas, alguns deles, eventualmente, até mais intimistas.
Sim, claro, nunca estive parado no que toca à composição. Há alguns temas que resultaram mais depressivos e um dia, se calhar, irão aparecer, mas não já. Há alguns deles guardados.

Foram uma forma de exorcismo de tudo o que estavas a passar?
Sim, podes vê-los dessa maneira.

E no fim atingiste os trinta anos de carreira com os Supersuckers. Pensavas chegar tão longe com o grupo?
Não, há uma série de coisas que aconteceram com o grupo que nunca pensei que pudessemos fazer; por exemplo, mantermo-nos populares como ainda hoje somos. Quando começámos os Supersuckers não esperávamos vir a ter a dimensão de uns Van Halen, que nunca tivemos, mas o objectivo era apenas escrever umas músicas, poder dar uns concertos e tornou-se em tudo isto.

Mantiveste a formação desde o anterior disco, «Holdin’ The Bag», e eles souberam esperar por ti.
Sim, foram porreiros em fazer isso.

Vocês gravaram uma faixa intitulada «The History Of Rock’n’Roll», quando muitos afirmam que o rock está morto. O que pensas disso?Sim, acho que o rock praticamente está morto, não é popular. O tipo de rock que ouço, hoje é praticamente para velhos, são poucos os miúdos que agora vemos nos concertos. O que fazemos é para poucas pessoas, mas continuamos a ter prazer nisso.

Porque achas que os miúdos não gostam de rock e de ir aos concertos?
Não sei, penso que seja por terem outras distracções, jogos de computador e todo um mundo tecnológico que os afasta de toda a magia do rock’n’roll. Em termos de história, ainda tens o Ozzy, mas são poucas as figuras como ele, que conseguem atrair público jovem à sua volta. Gosto da maneira como o faz e se promove, porque faz parte da história do rock.

Os miúdos de hoje já não precisam de ir a um concerto para encontrar as raparigas…
Eles não precisam de ir a lado nenhum. Sentam-se com o telefone e conseguem tudo aquilo que querem, através daquele pequeno monitor. É um tempo diferente.

Reparei que a maior parte das vossas datas são na Europa, ou América do Sul, há poucas nos Estados Unidos.
O rock’n’roll está bem mais vivo na Europa que nos Estados Unidos, pelo menos agora. Gostamos bastante de tocar aí, há pessoas que se importam com aquilo que estamos a fazer. Em particular, no caso das bandas de rock, não hesitam em dizer-te quando estiveste mal ou soaste pior. Gosto desse tipo de tratamento.

Há neste disco, uma versão de «Beer Drinkers & Hell Raisers». Fizeste-a a pensar nos Motorhead ou nos ZZ Top?
Um pouco nos dois. Demos um tratamento na linha de Motorhead à canção, mas depois temos uma slide guitar, a pensar nos ZZ Top.

Um tema que assenta bem em vocês e vos podia descrever.
Sim, podia sim.

Há alguma versão que tenha ficado por fazer?
De momento não, esta vontade aparece quando tem de aparecer e os temas surgem, sem pensarmos em escolher este ou aquele.

Como está a tua relação com a música country?
Nesta digressão em que entramos, fazemos alguns temas country. Uma boa coisa que temos nesta formação é todos serem capazes de articular o rock com o country. É uma boa capacidade, essa de podermos puxar de dois estilos de música, com os mesmos músicos.

Pensas fazer algo para celebrar as três décadas de existência?
Editarmos um disco forte como este é a nossa maneira de celebrar os trinta anos. Na digressão do «Suck It» estamos a planear tocar os dois primeiros discos na Subpop, «The Smoke Of Hell» e «La Mano Cornuda». Além de que vamos fazer uns temas de country e, claro, temas do novo disco. Vai ser um concerto longo, cerca de duas horas.

No caso da country, já é fácil encontrar mercado nos Estados Unidos, ao contrário do rock?
Não. Apesar de que, nos Estados Unidos, compreendem o country melhor que nos restantes países, mesmo aqueles em que se fala inglês. E nos países em que não falam inglês, ainda é mais difícil compreenderem o estilo.

Além da country, tens também aqueles concertos em que vais sozinho.
Aí sigo o que me pedem. É a parte interessante de tocar a solo, vou fazendo os temas que me pedem. As pessoas que me vão ouvir conhecem a qualidade da música que temos feito ao longo destes trinta anos e vão pedindo o que querem ouvir. É um teste para mim e divertido para aqueles que pagaram para ir ao concerto.

Que temas tocas, apenas originais dos Supersuckers ou também de outros grupos?
Toco principalmente material dos meus discos a solo ou dos Supersuckers, mas se me pedirem uma canção que conheça, posso tentar tocar.

Tens alguma banda de que costumes fazer versões?
É quase sempre tudo dos Supersuckers… Podes, por exemplo, encontrar uma «Cowboy Song» dos Thin Lizzy, mas são poucas as versões.

Falas em Thin Lizzy e penso que a única vez que vos vi foi como suporte a eles, em Madrid.
Foi um concerto divertido, mas curto. Tocámos cerca de meia-hora, era o que tínhamos e pareceu sempre muito pouco.