TAYLOR HAWKINS: Muito mais que “apenas” o baterista

Madrugada de Sábado; um pouco por todo o lado, as redes propagam a notícia. No acordar tardio que o fim de semana proporciona a alguns, enquanto corpos ainda se movem em slow motion, a notícia espalha-se, as reacções sucedem-se. Aos cinquenta anos, tinha falecido Taylor Hawkins, baterista dos FOO FIGHTERS. A idade choca sempre, o músico era demasiado novo e tinha uma longa carreira pela frente. Estar a uma hora de subir ao palco, para mais um concerto da sua banda, não deixa ninguém indiferente. Oliver Taylor Hawkins, nasceu a 17 de Fevereiro de 1972, tinha, assim, completado os cinquenta anos há pouco mais de um mês. O sorriso, o cabelo loiro, facilmente enganavam. Podia ser o all american boy, um ídolo pop a aproximar-se dos 40. Não era. Hawkins era o baterista de uma das mais bem-sucedidas bandas de rock deste século. Uma banda que nascera de uma tragédia, de um final abrupto de outra banda, porventura mais icónica. A carreira do músico começou a 5 de Abril de 1994. Nesse dia, Kurt Cobain suicidava-se, pondo fim aos NIRVANA. Da tragédia e do luto, o baterista Dave Grohl emergiria com um novo grupo, assumindo a guitarra e a voz. Ainda toldado pelo drama, lançaria o álbum homónimo em 1995. Na bateria, William Goldsmith. Menos de dois anos depois, uma desavença com um Grohl que ainda procurava a nova fórmula, levaram à saída deste e à entrada do miúdo de Orange County, Taylor Hawkins. Um perfeito desconhecido que ocupava o lugar de tarefeiro com Sass Jordan e Alanis Morissette, tentando a validade artística com os progsters SYLVIA.

São inúmeras as piadas de bateristas. Todos conhecem alguma. Taylor não se tornou conhecido por ser uma piada, mas pela frescura do seu sorriso. Quando os FOO FIGHTERS descolaram finalmente, era ele, junto a Grohl, que trazia o sorriso à ironia e autocrítica de vídeo-clips clássicos, bem patente nesta curta montagem, em jeito de best of. A partir daquele sorriso, do californiano loiro, veio a participação em nove discos de estúdio, o último dos quais em 2021, «Medicine At Midnight», responsável também pelo filme ‘Studio 666’, que por estes dias anda na boca do mundo da música. Taylor não era Neil Peart ou Joey Jordison. Estava longe do poder e loucura de um John Bonham ou de um Keith Moon. Também não era um incontestável baterista como Dave Lombardo ou Mike Portnoy. Taylor Hawkins era o gajo porreiro que tocava bateria, segurava os alicerces de uma banda, e muitas vezes era o motor a marcar as mudanças de ritmo ou a servir de filler para os discursos e subidas ao palco, tão comuns nos FOO FIGHTERS. Aliás, se a banda se afirmou desde cedo como uma máquina de rock em palco, um daqueles fenómenos que atrai multidões e encabeça cartazes, muito se devia ao carisma e humor de Grohl, mas também ao baterista que segurava o concerto o tempo todo. A sua batida forte e segura, inseria-o mais na classe discreta de bateristas como Charlie Watts, Joey Kramer, Frank Beard ou Phil Rudd.

Para a história, ficam registados solos famosos, como no Hyde Park ou no Rock In Rio. Porém, Hawkins era um músico ainda mais completo, providenciando vozes, guitarra e até piano em diversos temas dos FOO FIGHTERS, tendo mesmo a seu cargo uma versão que o grupo faria para «Have A Cigar», dos PINK FLOYD. Aliás, foram diversas as suas interpretações fora da bateria com os FOO FIGHTERS até ao derradeiro concerto no passado dia 20 de Março, no Lollapalooza Argentina. Fora do grupo, além do projecto a solo iniciado em 2006, de nome TAYLOR HAWKINS AND THE COATTAIL RIDERS, o músico foi aparecendo aqui e ali como convidado. COHEED AND CAMBRIA, SOS ALLSTARS, ERIC AVERY e BRIAN MAY foram apenas alguns dos nomes e projectos com que esteve envolvido. THE BIRDS OF SATAN e NHC seriam outros dos seus projectos. Em Agosto de 2001, uma overdose de heroína, levá-lo-ia a entrar em coma durante duas semanas. A banda teria actuado pela primeira vez em Portugal, no Festival da Ilha do Ermal, sendo a data cancelada por causa dessa ocorrência. Entretanto, o grupo acabaria por visitar o nosso país e tem ainda agendado um regresso ao Rock In Rio para a edição deste ano. Casado em 2005, o músico deixa três filhos. Em 1994, Grohl perdia o companheiro que o tinha trazido para a ribalta. Em 2022, perdeu o companheiro que trouxera para a ribalta e com quem trocava de posição, entre a bateria e a voz. Neil Peart, Charlie Watts, Joey Jordison e agora Taylor Hawkins a 25 de Março de 2022, a década de 20 não tem sido branda para os bateristas.