Os lendários THE DILLINGER ESCAPE PLAN, a espalharem o caos na Times Square, em Nova Iorque.
Caos. Confusão. Barulho. Dissonância. Matemática. Perigo. É disso tudo que temos de falar ao mencionar os icónicos THE DILLINGER ESCAPE PLAN, aquele que foi, sem dúvida, um dos grupos mais inovadores e desafiantes surgidos no espectro da música extrema na recta final do século passado. Feitos de uma fibra muito punk/hardcore, movidos a adrenalina e abençoados com a arrogância própria de instrumentistas talentosos e muito jovens, mas exímios na arte de debitar notas, solos e batidas à velocidade da luz, os músicos de Nova Jérsia afirmaram-se desde cedo como uma proposta incomum — a sua explosiva fusão de pós-hardcore, metal, arranjos alucinados e quebras rítmicas tinha muito mais em comum com o free jazz do que com qualquer categoria do rock.
Apesar de terem em bandas como Converge, Cave In ou Botch verdadeiras almas gémeas, foram eles os primeiros a chegar a uma audiência mais vasta graças a um contracto com a Relapse Records e, na senda do lançamento de bombas refratárias como «Under The Running Board» e «Calculating Infinity», não há como negar que o underground não mais voltou a ser o mesmo. Pois é, a dada altura não havia nenhuma metrópole europeia que não tivesse, pelo menos, um clone afinado da máquina demolidora formada por Ben Weinman e companhia.
Talvez por isso, a partir do exacto momento em que colaboraram com o camaleónico Mike Patton no EP «Irony Is A Dead Scene» e acolheram Greg Puciato como vocalista permanente em «Miss Machine», não mais voltaram a deixar de trocar de pele a cada novo passo. LPs como «Ire Works», «Option Paralysis» ou «One Of Us Is The Killer» mostraram o quinteto a explorar toda a elasticidade do seu som e, entre várias peripécias e algumas mudanças de formação, cimentaram-nos como uma das mais respeitadas bandas de peso da geração pré-MySpace.
Surpresa das surpresas, em 2016 decidem anunciar um ponto final do seu percurso, mas não sem antes lançarem o explosivo «Dissociation» e embarcarem numa digressão de despedida pelo mundo, que não deixou Portugal de fora. Verdade seja dita, no momento em que nos despedimos deles, em Corroios, o sentimento não era propriamente de perda, mas sim de celebração pelo facto de terem permanecido juntos durante tanto tempo — e de forma tão intensa.
Desde que surgiu pela primeira vez em Morris Plains, Nova Jérsia, em 1997, este quinteto radicalmente experimental assinou todas as suas actuações com total e absoluta falta de consideração pelo seu próprio bem-estar pessoal, encantando fãs e curiosos com a intensidade absoluta, agressividade exacerbada e, às vezes literalmente, explosiva dos seus concertos. “Acho que tocar ao vivo com esta banda é aquilo de que vou sentir mais falta”, disse Ben Weinman, guitarrista e co-fundador do grupo, na última vez que falámos com ele.
Nessa altura, pedimos-lhe também para recordar aquela que foi, sem dúvida, uma das actuações mais intensas e caóticas do longo percurso do grupo, realizada na saudosa Virgin Megastore, localizada na Times Square, em Nova Iorque, a 20 de Janeiro de 2015. Durante pouco mais de 40 minutos, a banda “partiu tudo” e o concerto começou logo com o vocalista Greg Puciato, hoje timoneiro de uma bem sucedida carreira a solo, a enfiar-se pela plateia adentro enquanto os seus companheiros atacavam a «Sugar Coated Sour» com uma intensidade desconcertante.
“Na verdade, isso não era atípico nos nossos concertos“, explicou Weinman. “Era frequente o Greg dar uns passos e correr sobre a multidão, por cima da cabeça das pessoas. O mais caricato desse concerto é que estávamos a tocar na secção de livros da loja, e as pessoas desciam a escada rolante à espera de pegarem num livro e beberem tranquilamente qualquer coisa no café. No entanto, quando se apercebiam do que estava a acontecer, podíamos vê-los literalmente a virar-se e a tentar subir a escada rolante para fugir de nós.” Pudera! Podes conferir a actuação, na íntegra, em baixo.