THE HELLACOPTERS: «Eyes Of Oblivion» | Nuclear Blast, 2022 [review]

Perdoem-nos alguma excitação impossível de esconder pelo regresso dos THE HELLACOPTERS aos discos. Sim, não é “cool” ficar entusiasmado com regressos, e nunca vai ser como era dantes, e é tudo pelo dinheiro, e essas coisas todas cínicas que se dizem. Mas o facto é que gostamos muito do Nicke Andersson. É um dos gajos mais importantes da música extrema, e confessamos que nos custa um bocado vê-lo ali sossegado, aparentemente contente por escrever umas malhitas de rock oculto meio chocho (sejamos honestos) para a sua companheira cantar. Se calhar era isso que ele precisava, durante uns anos, para ter saudades a sério das suas bandas do antigamente. Tudo bem, os THE HELLACOPTERS nunca desapareceram de vez, mas o próprio Nicke admitia livremente em entrevistas que os concertos que davam de vez em quando durante o hiato discográfico só serviam mesmo para ganhar uma guita interessante. Podiam ser bons concertos (ao contrário da opinião geral, o “só pelo dinheiro” e “bons concertos” não são totalmente incompatíveis), mas tínhamos saudades de saber que o coração do homem estava mesmo naquilo que estava a fazer.

E é esse o pano de fundo para a primeira audição de «Eyes Of Oblivion», o álbum de regresso dos suecos, o primeiro longa-duração de originais em catorze anos – sim, o «Head Off» (já de si longe de ser o melhor momento da carreira da banda) já data de um impossivelmente longínquo 2008. Há mais alguns “pormaiores” que aumentam ainda mais a boa onda deste comeback, mas à cabeça está o facto de o guitarrista Dregen fazer parte desta reunião, ele que é membro original (juntamente com Nicke e com o baterista Robert Eriksson, que também se mantém) e que ainda gravou os míticos «Supershitty To The Max!» e «Payin’ The Dues» antes de sair para se dedicar mais aos seus BACKYARD BABIES. Ora bem, controlada esta inevitável trepidação inicial, focamo-nos nas primeiras vibes dadas pelos primeiros temas, e – que alívio! – que boas que são. «Reap A Hurricane» / «Can It Wait» são o par perfeito de abertura, um murro um-dois que grita “estamos MESMO de volta, pessoal!” Têm energia, têm cojones, são catchy, setentistas mas não saudosistas. Percebe-se perfeitamente o porquê de a primeira ter sido também o primeiro single. Vamos lá ver, não têm propriamente energia/tomates à «Supershitty…», não exageremos. Essa gritaria encharcada de feedback e de whiskey já não volta, tenhamos noção. Já não há idade, nem provavelmente paciência, para voltar a ser aquilo. “Just a couple of wild punks, out raising hell“, como dizia o sample do início. É uma urgência que não se repete, nem deve. Mas estes dois temas são o equivalente de malta de 50 anos ao que eram a «(Gotta Get Some Action) NOW!» ou «24h Hell». E nem é só isso – são temas que, por exemplo, encaixavam lindamente já no «Payin’ The Dues». E como que a provar que não estão aqui para recriar coisa nenhuma, o terceiro tema, «So Sorry I Could Die», é uma semi-balada ao piano daquelas que já não se usam. Sem ser melosa, sem provocar cringe – é uma balada séria, sem ponta de ironia ou de vergonha alheia, que em 2022 estará ao alcance de muito poucos rockers.

Este trio parece ser o tchan, os temas que dão o mote ao resto, os que dizem “voltámos, estamos aqui, e somos isto”. A partir daí – e logo a seguir vem o segundo tema de avanço, que é também o tema-título, que é mais uma rockalhada melódica bem orelhuda -, os THE HELLACOPTERS embalam para um álbum sensato, onde não tentaram fazer demais (34 minutinhos, e está perfeito assim), que respeita a história do rock com uma data de clichés tanto de instrumentação como de composição, mas sem ser no mau sentido. É mais em jeito de homenagem, e de comunhão com os fãs, um piscar de olhos a dizer, sim, nós também ouvimos as bandas todas dos 70s – e não só – que vocês curtem. É um álbum genuíno (aqueles sorrisos nas fotos novas não mentem), de uma banda que não tenta fingir que ainda é algo que (já) não é há muito tempo. Uma banda que fez o que lhe apeteceu, e resultou. O Nicke Andersson canta bem, as guitarras debitam melodias e velocidade, faltando-lhes eventualmente algum grão e uma pitadazinha de agressividade, mas quando se lançam para um tema essencialmente percussivo e todo “saltitão” como «Beguiled»,  a banda toda (aparentemente) entra em coros irresístiveis como em «Tin Foil Soldier» (um tema impossivelmente pegajoso que dava, sem brincadeira nenhuma ou sem qualquer pendor depreciativo, para ganhar o Festival da Eurovisão na boa) ou «Try Me Tonight», ou quando, no final, nos atinge o facto de que muitas destas melodias podiam bem ter sido escritas pelos Beatles (e depois lemos uma declaração do Nicke a dizer que o álbum se pode descrever como “The Beatles meets Judas Priest or Lynyrd Skynyrd meets the Ramones“), já estamos honestamente muito para além da fase de tentar arranjar defeitos. Já estamos só a curtir. [8.5]

«Eyes Of Oblivion» está disponível via Nuclear Blast.

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