THE OMINOUS CIRCLE: Diário de bordo da tour dos Estados Unidos [parte 2]

Depois de, na passada sexta-feira, nos terem dado conta de como correram os primeiros dias da sua primeira investida pelos Estados Unidos, os THE OMINOUS CIRCLE estão de regresso com mais um report da Poison Fumes Over North America MMXVIII. Consumados os “rituais” em Brooklyn e Providence, o quinteto passou por Worcester e Montclair a caminho do Migration Fest 2018.

Pittsburgh, Pennsylvania
29 de Julho

A escassos dias do final da tour pouco cérebro resta para escrever estas linhas. Estamos neste momento no hotel em Pittsburgh a recolher pedaços da noite anterior enquanto aguardamos pela Mustard Wagon para seguirmos em direcção a Filadélfia. Muito se passou desde a última vez que demos notícias, mas temo que não haja caracteres suficientes para descrever na íntegra a incrível experiência que estamos a viver nos States. Faremos o nosso melhor.

Após a tarde de praia em Providence há três datas atrás batemos novamente a estrada com destino Worcester, estado do Massachusetts. Noite reservada para mais uma venue emblemática, o Ralphs Rock Diner. Não é fácil traduzir em palavras aquilo que faz desta sala tão especial. É um diner tipicamente americano instalado numa velha carruagem com um bar no primeiro andar de um edifício confinante. O ambiente é Tarantinesco: Stevie Ray Vaughan nos speakers, Harleys no descampado, barris de combustível vazios em todo o lado e neons ofuscantes. Somos recebidos por um motard de dois metros que trabalhava como segurança residente e explicadas as regras da casa. Tudo neste cenário é intimidante e ameaçador. “Welcome to New England“, dizem-nos. “Don’t fuck with me, won’t fuck with you“. Mais um dia no escritório. A jukebox já tocava Rainbow quando começámos a descarregar o backline e no backstage jazia a iguaria costumeira para jantar. Enquanto nos deliciávamos com mais uma refeição de pizza acertamos os detalhes de som com o Sound Guy Steve, tipo também ele de dois metros, casaco de ganga sem mangas e palito no canto da boca. Técnico de som orgulhoso da sala que o tornou famoso.

Ao fim dos sets de Wreak, Headrot e principalmente de Scorched já pouco palco restava para tocar. Concertos intensos com grande resposta do público. O nosso correu felizmente da mesma forma, como aliás tem sido até agora. Fechada a noite fomos aterrar num hotel a 10 minutos da venue onde na manhã seguinte tivemos a oportunidade de ir mais uma vez a banhos na piscina das instalações. As condições eram favoráveis e já havia muita cerveja para ser bebida nas três horas de estrada até Montclair, New Jersey.

Bastou entrar novamente no estado de Nova Iorque para o mau tempo nos voltar a atormentar. Chovia e trovejava de forma incessante quando chegámos ao Meatlocker, uma das três venues que alguns de nós já conheciam de experiências passadas e um ícone da scene de New Jersey. Tal como o nome indica o Locker é nada mais nada menos que um armazém de carne desactivado e convertido em sala de espectáculos. Noite de late show com uma viagem de seis horas para fazer logo a seguir em direcção a Pittsburgh.

Chegámos a Pittsburgh eram 8 da manhã. O load in estava marcado para as 12, pelo que ainda houve tempo para um par de horas de sono e um banho revitalizante. Era dia de Migration Fest, o ponto alto da tour até agora. A edição deste ano contou com um line up de luxo: Pelican, Panopticon, Khemmis, Spirit Adrift, Thou, Mournful Congregation, Hell, Mizmor, entre muitos outros. À hora do almoço já o Mr. Smalls Theater (velha igreja que funciona como anfiteatro de dois balcões, restaurante, bar e estúdio) estava repleto de gente. Pittsburgh tem um ar distinto, vive-se e respira-se música de uma forma nunca antes vista. Já nos tinham alertado para isso e felizmente pudemos confirmar tal facto logo ao início da tarde. No minuto em que instalamos a banca de merch já se reunia gente para comprar t-shirts, longsleeves, CDs, LPs, tapes, enfim… o que houvesse.

Por força de cancelamento de alguns voos de Nova Iorque os Mutilation Rites não chegariam a tempo e foi-nos pedido para adiantarmos um pouco o nosso set. Quando entrámos em palco a sala rebentava pelas costuras. O concerto foi absolutamente memorável em todos os aspectos. Naqueles 45 minutos as estrelas estavam perfeitamente alinhadas e a energia que emanava do público embalou-nos por completo. Ainda a nossa outro tocava e dois de nós já estavam na banca a trabalhar arduamente. Faziam-se filas para comprar o nosso merch. Foi surreal: em duas horas despachamos tudo o que tínhamos para vender. O melhor de tudo é que a partir desse momento deixamos de ter qualquer encargo. A missão passou a ser uma: desfrutar do festival. Caminho aberto para a “copofonia” com o nosso “patrão” David Adelson (20 Buck Spin) com quem nunca tínhamos estado pessoalmente, com o pessoal de Mutilation Rites, Mournful Congregation e Spirit Adrift. Entre idas regulares ao frigorífico houve tempo para curtir os concertos que se seguiam naquela noite. Enormes espectáculos num festival sem paralelo. Trash cans, bourbons, cervejas várias e mal abrimos os olhos já estava no momento de ir para o hotel.

Como já dissemos, muito mais havia para escrever (especialmente sobre esta última data) mas a Mustard Wagon já chegou e está faminta por asfalto. São cinco horas até Philly e o entusiasmo continua em alta. Já se ouve Jimmy Buffet nas colunas. Está na hora.