O principal legado deixado pelas soturnas actividades das LLN nos anos 90 é o do desenvolvimento de black metal como colectivo assente num ethos DIY, que em termos de coerência estética está para a cena local como esta normalmente está para a cena nacional. Nesta lista, olhamos para dez dos melhores discos editados em 2018 por colectivos de black metal. Convém referir que não foram considerados três álbuns editados pela Haeresis Noviomagi por terem sido colocados noutras listas do mesmo autor, nomeadamente, o «Euprosopon» de Iskandr (#4 no top internacional), o «De Oord», de Turia e Fluisteraars (#1 no top de splits) e o auto-intitulado split de Turia com Vilkacis (#5 no top de splits). Dos inúmeros colectivos do género em actividade, a escolha acabou por recair em álbuns lançados pelo Black Twilight Circle, Haeresis Noviomagi, Korpsånd, Pràva Kollektiv, e Vrasubatlat.
01
Adzalaan
«Into Vermillion Mirrors»
[Vrasubatlat]
Aquando da elaboração do top internacional pessoal, decidi só incluir o melhor disco lançado por colectivos do género. A escolha recaiu no «Euprosopon» mas podia perfeitamente ter sido o brilhante vigésimo lançamento da Vrasubatlat. Há aliás um interessante paralelo entre o «Into Vermillion Mirrors» e o mais recente álbum de Iskandr, visto tratarem-se de discos que demonstram um salto qualitativo gritante em relação aos lançamentos anteriores dos projectos a solo dos dois mais prolíficos membros dos respectivos colectivos, nomeadamente, o O. da Haeresis Noviomagi e o R. da Vrasubatlat. Mais, são dois álbuns que conseguem destilar a variedade artística dos respectivos colectivos de forma surpreendente.
02
Solar Temple
«Fertile Descent»
[Haeresis Noviomagi]
«Rays Of Brilliance», lançado em 2017, tinha dado a entender que os Solar Temple se poderiam facilmente tornar dos mais fascinantes projectos de black metal a surgir recentemente nos Países Baixos. Os dois longos temas de «Fertile Descent» desenvolvem-se em parte à custa de longos padrões em aparente repetição e constante mutação, o que lhes confere um considerável carácter psicadélico. Podíamos encher uma página a destacar um sem fim de pormenores deliciosos presentes ao longo do disco. Contendo-nos, mencionemos no entanto a peculiar abordagem vocal, muito longe dos registos que associamos às outras bandas do colectivo, a abordagem de M. à secção rítmica, que em boa parte do disco deve muito mais à megalomania industrial de Swans do que a qualquer banda de black metal, o incrível riff que marca a primeira explosão de «White Jaw», por volta dos quatro minutos do tema, e a forma como aguentam o sufocante crescendo do tema até nos deixarem respirar de novo mais ou menos a meio do mesmo.
03
Arkhtinn
«最初の災害»
[Pràva Kollektiv]
Apesar do Pràva Kollektiv só recentemente ter aparecido enquanto tal, os Arkhtinn já andavam na boca dos fãs de black metal a la Wroth há uma série de anos, fruto de seis belas demos lançadas desde 2013, a última das quais este ano. A estrutura destes primeiros lançamentos foi sempre a mesma: no lado A, um malhão de vinte minutos de black metal expansivo e agreste, e no lado B, o desconstruir do tema através de dark ambient. Se até podíamos achar que as expansões cósmicas até aqui erigidas tinham mais de disco do que demo, ao ouvir «最初の災害» percebemos porque é que este é que é o primeiro álbum a sério para o misterioso grupo. No fundo, é como perceber a diferença de escala entre a via láctea e um ajuntamento de galáxias: nas demos andaram a brincar aos braços de uma espiral pequenina, expandindo agora para uma inenarrável vastidão conducente à completa perda de sanidade mental, materializada também ela no melhor e mais aterrador trabalho vocal com que já nos brindaram.
04
Lubbert Das
«De Plagen»
[Haeresis Noviomagi]
Quem assistiu a actuações dos Lubbert Das não tem dúvidas que são a banda da Haeresis Noviomagi com a mais virulenta e feroz abordagem ao black metal, de tal forma que este longa-duração de estreia será porventura o mais antecipado lançamento do colectivo até à data. Se «Deluge» ainda podia ter deixado algumas dúvidas sobre se a sonoridade era assente numa base de black metal com desvios black punk ou vice-versa, «De Plagen» estabelece: trata-se de black metal de uma violência assinalável, tanto capaz de injectar uma passagem de d-beat aqui e ali, como de fazer black metal à sueca do melhor que temos ouvido («De Pest») ou de enveredar por paganismos a la White Medal («Het Zwaard»), tudo isto sem nunca abrandar ou deixar de soar a Lubbert Das.
05
Dagger Lust
«Siege Bondage Adverse To The Godhead»
[Vrasubatlat]
Facilmente o disco mais porco desta lista, sobre o qual disse o seguinte na Loud! #206:
“Os Dagger Lust chafurdam sem misericórdia nas decadentes consequências do hedonismo desenfreado em «Siege Bondage Adverse To The Godhead». O álbum destaca-se pela inclusão de elementos de power electronics no caldeirão de death/grind e black metal que tinham desenvolvido nas duas demos anteriores. Tal inclusão conspurcou o som do trio, tendo ainda permitido um reduzir de adesão a estruturas rítmicas nas composições. Por sua vez, isso permite à música transmitir uma sensação de depravação descontrolada que há muito pretendiam.”
06
V/A
«Korpsånd – An Introduction To The New Wave Of DKBM»
[Korpsånd]
Oriundo da Dinamarca, o Korpsånd é o mais recente colectivo a figurar nesta lista. Deu-se a conhecer ao mundo através desta compilação, editada pelas ilustres Fallow Field e Tour De Garde, onde podemos encontrar um sem fim de variantes de black metal cru e sujo, ora conspurcado de punk, ora de arranjos épicos ou de hipnóticas repetições. Ponto de partida perfeito para descobrir outros lançamentos de 2018, como o aditivo EP dos bilingue Grifla Da La Secta ou o EP de estreia dos Jordslået, obrigatório para fãs de Enslaved por alturas do «Eld», isto para não falar da avalanche de boas demos de bandas do colectivo que saíram nos últimos anos.
07
Serum Dreg
«Lustful Vengeance»
[Vrasubatlat]
Death-fucking-ritual! (c.f. LOUD! #206)
08
Blue Hummingbird On The Left / Kallathon
«Camino De Guerra»
[Black Twilight Circle]
Dizíamos na peça sobre o Black Twilight Circle (c.f. LOUD! #204) que a digressão europeia de Janeiro tinha deixado claro que o melhor material de Blue Hummingbird On The Left seguia por uma direcção surpreendente e ainda estava por editar, acrescentando que “vislumbres dessa direcção surgem no entanto no tema «Camino De Guerra», editado em Janeiro num split com os Kallathon (cujas recentes contribuições para splits também demonstram uma evolução incrível desde o período 2009-2011).” Para saberem se os indícios demonstrados neste belo split e nos referidos concertos se irão confirmar no próximo «Atl Tlachinolli», é ler a LOUD! #215, nas bancas no dia 2 de Fevereiro.
09
Pissblood
«Pissblood»
[Vrasubatlat]
Uma das mais interessantes características da Vrasubatlat é a diversidade de abordagens, que se estende a praticamente todo o tipo de som conspurcado que conseguimos imaginar. Ao longo dos anos, a maioria das incursões para territórios ostensivamente fora da base de black e death metal do colectivo têm sido para territórios de noise e power electronics, cortesia de Mròz, Anteinferno, e Filth Column, sendo que os últimos até lançaram uma aterradora malha de vinte minutos este ano. Decidimos no entanto destacar o álbum de estreia dos Pissblood, um incessante ataque de raw punk francamente visceral que encaixaria que nem uma luva numa digressão com os Systemik Viølence.
10
Voidsphere
«To Await | To Expect»
[Pràva Kollektiv]
Para além do longa-duração de estreia de Arkhtinn, destacam-se ainda no 2018 do Pràva Kollektiv os lançamentos de Mahr e Voidsphere. Dos dois, escolhemos o de Voidsphere visto «Antelux» de Mahr, apesar de ter um impacto mais imediato, se desenrolar em territórios mais familiares, nomeadamente, o black metal cósmico dos Darkspace. Já «To Await | To Expect», apesar de não ser uma grande revolução na referida abordagem, apresenta composições que se contraem como que em espiral após uma expansão inicial, ficando mais tortuosas a cada minuto que passa dos vinte de duração total de cada uma.