Emperor (Emanuel Ferreira)

Vagos Metal Fest @ Quinta do Ega, Vagos | Dia 3 – 30.07.22 [reportagem]

Dia mais quente, talvez por isso, e também pelo efeito da ressaca e da invasão de melgas, estavam apenas escassas dezenas de pessoas a assistir à actuação dos FONTE, que traziam o novo vocalista. Verdade seja dita, acabou por ser um concerto tão esforçado quanto inglório face à escassa audiência. Na sequência, ainda no palco Amazing, chegavam uns APOTROPAICO e o seu metal sem grande definição, com um som que também não ajudava. Vindos de Ibiza, certamente só conseguiram a posição à frente da banda anterior devido aos quilómetros percorridos desde a “Ilha onde só passa disco music“. «Scars», segundo tema da tarde, é o novo single, mas nem por isso convenceram ou deixaram marcas. Os ARSEA abriram o palco Vagos e o metal melódico destes italianos de Lazio, vale em disco, mas sobrevive mal num palco grande, debaixo de Sol. O sexteto, quase estático, tem no vocalista Matteo Peluffo o protagonista principal, com este a passear pelo palco, criando a pouca animação. “Quem tem gatos em casa? Quero apenas que digam duas palavras: Miau, caralho” – são os SOTZ’ em palco. Tal como os italianos, a banda nacional resulta melhor em disco que neste tipo de palco. Aqui, a narrativa hipnótica de «Popol Vuh» esvai-se, os bons solos dos dois guitarristas perdem-se, face a um público que precisa de algo enérgico para acordar da ressaca. Naturalmente que o alinhamento se centrou no seu primeiro e único álbum, mas sem nenhuma da mística deste.


Francesco Cavalieri, vocalista dos WIND ROSE, foi avisando que provavelmente eram a banda vestida de forma mais estranha neste dia, mas que conquistariam todos até ao final da actuação. Pela forma como o público reagiu desde o primeiro tema, certamente que todos já estavam previamente rendidos. Vestidos como personagens de uma versão de Magic, justificaram plenamente todo o hidromel que correu por estes dias. Francesco é um animal de palco, e mostrou como se pode arrebatar o público. Os italianos foram um daqueles claros casos de como um grupo pode usar um tema para aumentar o reconhecimento. As CRYPTA trocaram a ordem de actuação com os KATAKLYSM, acabando por tocar mais cedo do que estava anunciado. No entanto, e pela amostra, só se pode dizer que a cisão das Nervosa resultou bem para ambos os grupos, em particular neste caso. Revelaram muita energia em palco e a dupla de guitarristas que acompanha Fernanda Lira resulta mesmo muito bem no intercâmbio de solos. «Kali» foi, naturalmente dedicada a todas as mulheres, ou não seja o quarteto brasileiro uma all girls band. Os DESIRE subiram a palco ao som de corvos e com uma formação diferente à que nos habituaram, com André Cadente, dos Corpus Christii, na bateria, e António Durães, dos Glasya e Dogma, no baixo. Arrancando logo nos primeiros temas com «White Falling Room», o doom da veterana banda nacional serviu de banda-sonora ao ocaso do Sol, naquilo que foi um excelente timing. Não deixa de ser estranho escutar “Façam barulho” num ambiente cerimonial como o que se espera da banda nacional, mas Nuno “Corvus” Miguel estava nitidamente de bom humor e contente pela vasta multidão que os via. “Nós somos os My Dying… Desire!” foi uma das suas várias tiradas. O palco Amazing reabriu para os canadianos KATAKLYSM e há pouco a dizer de uma das piores actuações internacionais entre os “grandes” nomes do festival. Luz fraca, um death metal genérico e sem personalidade, por vezes com mais groove que blasts. O grupo actuou “finalmente” pela segunda vez em Portugal, como o vocalista Maurizio Iacono referiu, mas ficou a sensação, face ao histórico de discos do colectivo, que se perdeu o mais interessante entre as duas visitas “na região do Porto”.

Pela primeira vez em Portugal, vindos da Noruega, Emperor”, anunciou um speaker português. E «In The Wordless Chamber» arrancou. A partir daí, os EMPEROR mostraram porque são, além de percursores de um movimento único, uma banda transversal no heavy metal. Todos os quatro pilares do grupo foram visitados, com particular destaque para a estreia «In The Nightside Eclipse». Ocasionalmente, Ihsahn orientava e guiava o público, como aconteceu quando referiu um tema “que nos unia nos primórdios”, a propósito de «The Acclamation Of Bonds», ou pedindo a ajuda do público para iniciar «Inno A Satanna». No meio de tantas jóias de obsidiana, foi certamente «With Strength I Burn» que rasgou a noite. Ou se calhar não, e foi apenas uma preferência pessoal. A sinfonia negra terminou com «Ye Entrancemperium». Resultado: trinta e um anos depois de surgirem, em Notodden, na Noruega, os EMPEROR visitaram Portugal pela primeira e provavelmente única vez. Foi soberbo.