Vão deixar o rock, o punk, o metal (e muita música underground) morrer no Porto?

Em artigo publicado hoje, o Jornal de Notícias volta a alertar para o eminente encerramento do Centro Comercial Stop, no Porto. A notícia não é de hoje e já se arrasta há vários anos, o CC Stop corre o risco de ser fechado. De novo, ou até não, apenas a referência a uma primeira data limite. De acordo com edição de hoje, o jornal revela que há um prazo, até 6 de Novembro próximo, para que seja entregue um “projecto de especialidades” que permita que o espaço continue a funcionar. Conhecido como “a verdadeira Casa da Música do Porto”, o Stop, como é conhecido, foi sendo, ao longo dos anos, ocupado por bandas e músicos. Primeiro apareceu a loja Halloween, que foi atraindo músicos, depois bandas como Web, Heavenhood e outras encontraram nas lojas devolutas salas onde podiam ensaiar e guardar equipamento, a baixo custo. Depois, abriu o Metalpoint, vieram estúdios e cada vez mais salas de ensaios, onde é comum várias bandas ocuparem o mesmo espaço, para diminuírem o valor das rendas. Krypto, Greengo, Gaerea, Equaleft, 10,000 Russos… São inúmeros os nomes que surgiram por lá, passaram, ou ainda se mantém nesse espaço. E quanto a concertos, é melhor nem falar, tal o inúmero rol de bandas que têm passado pelo palco do Metalpoint, e de outras salas que ocasionalmente pontuam por lá.

Inicialmente, foi fácil apontar o dedo à Câmara Municipal do Porto, aos interesses imobiliários e toda uma longa lista de vilões habituais neste caso. No entanto o tempo passa e percebe-se que são os proprietários, muitos deles desconhecidos, até, que se revelam os verdadeiros irresponsáveis, não respondendo às solicitações camarárias. Como referido no artigo do JN, a “Câmara reconhece o valor cultural do espaço e do trabalho dos músicos”. Hoje são mais de 500 que usam as instalações. A LOUD! tem conhecimento de mais de uma dezena de reuniões realizadas para o efeito, com os serviços camarários a serem complacentes, num processo que se arrasta há vários anos. “A realidade é que bastava os bombeiros dizerem e o Centro Comercial era fechado de imediato”, refere uma fonte à LOUD! Quem frequentou o local, sabe bem que após certas horas da noite, a saída do espaço, onde é normal estarem centenas de pessoas, efectua-se por uma porta de um metro de largura. O sistema eléctrico carece de certificação, fala-se em baixadas ilegais, a carga térmica dentro das salas é elevada, além do risco associado aos inúmeros equipamentos. Em 2012 o Centro Comercial teve de ser evacuado devido ao incêndio num dos estúdios lá localizados. Gravava-se um álbum de Heavenwood nessa altura. Na altura registaram-se três feridos. Contas à época, enumeravam 95 salas de ensaio, entre as 147 do espaço. Já em 2010 a CMP pediu uma licença de utilização a cada loja ocupada. As bandas decidiram avançar para um pedido colectivo, numa tentativa de diminuir os custos. Na realidade tal nunca aconteceu e, actualmente, apenas uma dezena de lojas tem a referida licença, de acordo com a CMP.

Dia 6 de Novembro, vem mais uma data limite. Pode ser apenas mais uma, ou pode ser a última. Não adiantará é apontar o dedo às autoridades que zelam pela segurança de todos e têm sido tolerantes. A inércia dos envolvidos é, certamente, a principal responsável.

Foto do header: HELENA GRANJO [via Hedflow]