VENOM INC.: «There’s Only Black» | Nuclear Blast, 2022 [review]

Nítida progressão relativamente ao anterior e já de si surpreendente «Avé», Jeff “Mantas” Dunn e Tony “Demolition Man” Dolan dão um pontapé no caixão das más línguas que viam na encarnação de Venom Inc. pouco mais que uma cover band de luxo: «There’s Only Black» continua o legado de músicos com um lugar de destaque na história do género, deixando a impressão de que apesar das polémicas relacionadas com trademarks e quejandos, continua a haver uma clara vontade em manter uma chama acesa. E fazem-no francamente de olhos fechados, mantendo uma atitude desprendida que nunca resvala para uma reverência nostálgica em relação a um passado irrepetível. Se há uma diferença entre a paródia e a consciência aguda do que ficou lá para trás, os Venom Inc. começam a ter a lição bem estudada: aquela atitude incondicionalmente blasfema fica lá mais para o fundo, servem-se das possibilidades da técnicas modernas de produção para injectar esteróides numa sonoridade cada vez mais demolidora, piscam o olho à história basilar da música extrema como quem saúda um velho irmão com o copo cheio.

Uma das razões que faz deste «There’s Only Black» uma progressão em relação ao “álbum de estreia” (estranho dizê-lo assim) passa pela inclusão de um baterista, Jeramie “Warmachine” Kling (Inhuman Condition, The Absence), o que invariavelmente oferece ao disco um dinamismo que uma drum machine não tende a proporcionar. Os temas fogem da estrutura meio repetitiva que se faziam sentir um pouco por todo o «Avé», e de uma maneira geral há por aqui um groove galvanizante que transporta o álbum para outro patamar. Os riffs agigantam-se e arrastam-se, e há uma maior incandescência nos solos: «Rampant» é mesmo daquelas faixas que mais que justifica a necessidade de Mantas e companhia continuarem a fazer aquilo que fazem – uma intro que queima o ar com uma electricidade trovejante, transições galvanizadas por uma secção de ritmo esgazeada, texturas que desaguam num solo incendiário e que nunca perde o sentido melódico. É um disco orgânico, em que os pontos altos se inserem numa lógica de composição pensada do princípio ao fim: «Nine» evoca o que de mais diabólico há no thrash, «There’s Only Black» tem aquela vibe celebratória que um tema-statement pede; a longa secção instrumental em «Burn Liar Burn» é do mais atmosférico que já fizeram e deixa apetite para mais. Não rebenta com a escala, mas vai rodar continuamente. [7.5]