VENOM PRISON: «Erebos» | Century Media, 2022 [review]

Formados em 2014, os Venom Prison têm tido uma rápida ascensão dentro do lote de bandas de death metal moderno a ter em conta, de recém-chegados cheios de potencial a prováveis porta-estandartes da nova cena britânica. E se tudo começou com «Animus», editado em 2016 pela Prosthetic Records, que prontamente lhes valeu o prémio de “melhor nova banda” por parte da revista Metal Hammer, credencial de resto substanciada e até mesmo elevada com a impetuosidade de «Samsara» em 2019, é com este «Erebos», primeiro trabalho com a chancela da germânica Century Media, que são dados os ambiciosos passos para um reconhecimento ainda maior. Diga-se já à partida que se esperam a brutalidade mais imediata e implacável que a banda tinha vindo a debitar até então, não é que não a recebam, simplesmente não há apenas isso: a veia melódica está consideravelmente mais audível, da harmonização de certas passagens aos solos bem cristalinos, e a escrita está mais polida e ao mesmo tempo mais audaz, tornando-se mais memorável e menos encaixada, sem receio de explorar ideias que vão muito além do contexto do death metal, inclusive, por exemplo, através do recurso a vocais limpos. Pegando numa influência que lhes é querida e extrapolando para um exercício de metamorfose, lembrem-se do caminho evolutivo que foi palmilhado pelos Carcass do seu início até ao inesperado e marcante «Heartwork». Por certo que alguns de vós se aborrecerão caso não sintam materializado o percurso que mais lhes idealizariam, fosse esse entre a actualização do death metal da velha guarda à Undeath ou Necrot, as polvilhações hardcore à Gatecreeper ou Mammoth Grinder, ou até o tecnicismo brusco à Vitriol, no entanto, este disco não deixa de promover os galeses para um patamar próprio, particularmente diferenciado, ainda devidamente enraizado numa sonoridade death metal.

Pelo cariz introdutório de «Born From Chaos», do compasso rítmico ao ambiente entre o sinfónico e o electrónico, devidamente embalado pelo chamamento reiterado da divindade na mitologia grega que dá nome a este longa-duração – o maior da banda, diga-se, com quase 50 minutos –, logo se calcula a mudança de atitude. Segue-se «Judges Of The Underworld», com a sua riffagem enrolada a invocar os tempos de «The Impossibility Of Reason» de Chimaira, que nos traz na entrega dual entre registo límpido e áspero de “guilty as charged” uma primeira estranheza que se entranha, até culminar numa sequência de breakdowns que até conseguem sobressaltar. «Nemesis» arranca com um refrão que liricamente relembra uma passagem da «The Blister Exists» dos Slipknot, embora o faça num jeito bem à Arch Enemy – que curiosamente também têm um tema com esse nome –, mesmo que pelo meio surja algum espaço para respirar, ora até com dissonâncias. Na entrada de «Comfort Of Complicity» quase se ouve At The Gates, até nova aura dos anteriores supracitados pela fase Angela Gossow, finalizando com um solo cuja cadência apela a «Selkies: The Endless Obsession» dos Between The Buried And Me, tal é o arrojo progressivo. A terminar o lado A, surge «Pain Of Oizys», um dos temas mais surpreendentes e sublimes pela sua delicadeza, a transparecer a experimentação com algum trip hop, com uma aura sombria entre a melancolia dos Oathbreaker e a volatilidade dos Svalbard, até à apoteose purgante com um arrepiante “Bow to no one/off your knees/I find peace in the roughest seas”.

Para não vos estragar a experiência de descobrir a segunda metade do álbum, alerto-vos apenas para o desfecho do mesmo, pela «Technologies Of Death», num momento algo à Cradle Of Filth, fazendo assim a ponte para o trabalho de Scott Atkins, guitarrista dos míticos Stampin’ Ground – os Venom Prison chegaram no passado a fazer uma versão de «Officer Down» –, também conhecido por produzir precisamente os últimos discos da banda de Dani Filth (além de Vader, Benediction ou Onslaught), que muito ajuda a realçar o som da banda com absoluta clareza, desde a dualidade na destreza de solos entre Ash Gray e Ben Thomas, a pujança ritmada entre os blast beats de Joe Bills e o ataque grave de Mike Jefferies, sem descurar o formidável talento vocal de Larissa Stupar, enfatizado pelo seu lirismo metafórico de índole social e político de particular actual relevo. [8]