Wiegedood

WIEGEDOOD + CAVERNANCIA @ Musicbox, Lisboa | 27.05.22 [reportagem]

Ontem houe noite de escuridão no Musicbox, em Lisboa, com a sala do Cais Do Sodré a receber os belgas WIEGEDOOD, com o seu black metal muito próprio, assim como o “nosso” Pedro Roque através da sua expressão musical que é CAVERNANCIA, e que deu o mote inicial para o tom da noite. A sala foi-se enchendo, e a entrada já estava preparada, com a mesa montada à frente do palco, onde estava a parafernália electrónica que concentrou a nossa atenção nos cerca de quarenta minutos seguintes. CAVERNANCIA editou recentemente o seu segundo registo, intitulado «Manto», composto por uma única faixa com 35 minutos onde o drone, o ambient e o noise se fundem numa viagem interior. Tendo por base esse material, o que experienciámos neste concerto foi exponencialmente mais agressivo, mas com os mesmos resultados. E por agressivo entenda-se um nível de agressividade em que “até-as-fundações-do-Musicbox-tremeram-com-tanta-distorção”. Roque, totalmente imerso na sua criação tal como um cientista louco a conduzir uma experiência alheia à realidade, ia dando as nuances necessárias para que esta fosse uma verdadeira experiência sonora única. Por parte do público houve contemplação e absorção das sonoridades abrasivas que foram ecoando, mesmo depois de Roque sair de cena, e que culminaram em aplausos generalizados.

Poderia pensar-se que tal junção seria desajustada, mas a ligação foi perfeita, afinal estamos a falar dos WIEGEDOOD, que não são simplesmente black metal e têm toda uma dimensão muito própria à sua volta. Em grande parte, tal como CAVERNANCIA, que permite ao ouvinte fazer uma viagem interior perante as peças de distorção com que é agredido, os músicos começaram logo a actuação com a corrosiva «FN SCAR 16». Por esse mesmo motivo, não houve qualquer tipo de comunicação entre a banda e o público — tirando apenas um breve “Thank you. This is our last song” antes de tocarem «Carousel», que colocou um ponto final no concerto. Pelo meio tivemos principalmente material do álbum «There’s Always Blood At The End Of The Road» no centro das atenções, com uns desvios pelo «De Doden Hebben Het Goed II», numa actuação que foi tudo aquilo que se antecipava e mais ainda. De tal forma que o público ainda chamou pelos belgas para um possível encore e, durante alguns minutos, enquanto a outro do seu concerto se fazia ouvir, essa possibilidade ainda ecoava no ar, mas o acender das luzes mostrou que o fim tinha mesmo chegado. Para a posteridade fica uma das actuações mais intensas e abrasivas que vimos uma banda de black metal assinar recentemente. Ainda que seja o black metal o black metal dos WIEGEDOOD seja bastante sui generis, não deixa de fazer mossa.

FOTOS: Sónia Ferreira