STEVE VAI:
Histórias de Luz e Ilusão

É mais que um guitarrista e é mais que um álbum de guitarra. STEVE VAI e a segunda parte das suas Real Illusions intitulada «The Story Of Light» mantêm em alta o nome de um músico que, certamente, está no pódio dos mais iluminados do seu estilo. E é de luz, mas também de impactos e alucinações que se faz este oitavo trabalho a solo do americano. Um álbum conceptual e até aí diferente das convenções do género, com a terceira parte da trilogia já em andamento. Já na Europa em rota de rodagem a mais este rasgo de inspiração, ligámos para o Steve em Atenas, antes de mais um concerto. Em breve, fará dois por cá: a 11 de Dezembro no Hard Club do Porto e, no dia 12, na Aula Magna, em Lisboa. Cada vez mais único e personalizado na idade da norma. O que faz pode soar a magia e ilusão, mas é bem real – pura classe.

Sete anos depois de «Real Illusions: Reflections», este é o álbum onde conseguiste, efectivamente, representar as ideias que foram crescendo em ti neste período?
Bom, muitas vezes não me deixo obcecar com o resultado daquilo que vou fazer. Se tenho uma daquelas ideias que me tomam de assalto, é pô-la em prática, sem pensar nas reacções. Acho que é nessas alturas que um artista cria as melhores coisas. E haverá sempre uma audiência a prestar atenção. Pode não ser uma enorme audiência mas, quando fazes o que melhor sabes e exercitas algum dom especial, há alguém para te ouvir. E eu tenho sido afortunado em ter público que se excita com as coisas que também me entusiasmam. Claro que as pessoas nem sempre concordam com o que faço, isto porque também as desafio um pouco, e com «The Story Of Light» estive ainda mais próximo desse entusiasmo pleno. Foi a minha mais honesta expressão neste dado momento.

Já fizeste discos meio experimentais e essa veia nota-se também em «The Story Of Light», mas este parece-me um álbum, sobretudo, positivo; de luz. Ou será que também exorcisas aqui alguns demónios?
Também tenho o meu lado negro, claro. Mas, através dos anos, descobri que o que quero mesmo é ser feliz. E para lá chegares tens de enfrentar as coisas que não te fazem feliz. Se fôr realmente sincero, tudo se revelerá sobre eu mesmo. Depois, terei então de ter a coragem para as mudar. Para onde quer que nos dirigimos, só vamos perpetuar esse estado de espírito – ao compormos música sobre quão miseráveis estamos, só vamos juntar mais desgraça à nossa vida; vais atraí-la e assim justificar o teu estado. Essa é uma escolha do artista e eu não quero isso para mim. Quero-me sentir sempre bem. E já que sou eu a fazer esta música – e mais ninguém – quero nela cravar a qualidade da minha vida. Este álbum é mais um exemplo da música que me faz sentir bem e fico muito agradado se outras pessoas conseguirem atingir esse estado de alma, também.

Sempre ouvimos vozes nos teus discos, mas não necessariamente, canções convencionais. Aqui, cantas no tema «The Moon And I», outro divides com a Aimee Mann e há uma curiosa versão de «John The Revelator» com a Beverly McClellan. Desta vez, sentiste mais aquele click para incluires alguns temas cantados?
A maioria dos meus álbuns tem músicas cantadas. Só o «Alien Love Secrets» e o «Passion And Warfare» é que não. Gosto de vozes, gosto de cantar e de ter outras pessoas comigo nesse função, foi por isso que convidei a Beverly e a Aimee. Sei que também há pessoas que gostam. Eu tenho uma audiência muito polarizada – uns gostariam que eu apenas fizesse álbuns instrumentais e que calasse a boca e outros gostam de canções. A única coisa que para mim faz sentido, é gravar o que me apetece; o que sinto. A «John The Revelator» é tipo canção sagrada, muita gente já a fez. Eu quis mantê-la respeituosa, mas torná-la completamente diferente.

De vez em quando, o teu nome surge nas listas de quem é – ou não é – o melhor dos guitarristas. Prestas atenção a esse debate?
Eu penso que criticar e julgar guitarristas não permite às pessoas desfrutarde toda a diversidade e potencial que o universo oferece. Ocasionalmente, posso olhar para essas listas, mas não as acompanho… às vezes sou o #1 e, noutras, nem sequer estou na lista. Continuo a fazer a música de que gosto, independentemente de onde figura nessas classificações. É bom sermos reconhecidos pela contribuição que damos à música, mas com o tempo habituas-te a ignorar isso. Hoje em dia vais à net e lês posts que toda a gente pode ler, portanto, hoje, qualquer um pode ser um crítico. Já li de tudo, desde “deus” e “figura histórica”, até alguém a achar que eu não passo de um shredder dos anos ’80, que devia ser banido para o fosso das hair bands. [risos] Tornei-me extremamente indiferente a essas coisas; cada um faz a sua cena.

Pelo que tenho visto, este novo álbum está a ter óptimas reacções. Podes não ligar muito, mas é sempre um bónus para o artista, após muitas horas de dedicação?
Claro. Porque, sem embargo daquilo que disse, a maioria dos artistas quer agradar a toda a gente. Muitos dizem que só querem agradar a eles mesmos, mas não é bem assim… todos gostamos de saber que aquilo que fazemos é válido e fiável Um disco é a representação da honestidade que te falava há pouco e, quando o libertas para o mundo, nem sempre é fácil para nós, porque, afinal, é um pedaço daquilo que somos. Está pronto a ser criticado e analisado. E podemos ser muito sensíveis quanto à crítica, é um facto. Acho que não me posso queixar muito porque a crítica tem-me sido bem mais favorável, que o contrário. Quandoo «The Story Of Light» saiu senti que recuperei identidade na cabeça de muitos fãs e imprensa. O disco tem sido aclamado, basta ver as reviews a concertos na ticketmaster.com, quase me embaraçam de tão grandiosas… É excitante e motivador saber que estás a fazer algo que move alguém.

Continuas a ser aquele músico talentoso que faz muitas “coisas esquisitas” nos seus álbuns ou, pelo menos, que as pessoas consideram esquisitas. Essa também é a forma de desafiares a tua audiência?
Bom, eu envergo essa weirdness com muito orgulho. [risos] Alguém o tem de fazer. Nunca gostei de limites, muito menos, na minha música. E depois há um lado que chamaria espiritual naquilo que faço – se tenho aquela faceta académica, a noção de que as coisas devem sair tão perfeitas quanto possível, também deixo fluir uma certa introspecção do que não é palpável. E foi assim que criei «The Story Of Light».

Em breve estarás de regresso a Portugal para mais dois concertos. Apenas mais um país no teu roteiro ou já tens aqui uma ligação especial, onde tocas regularmente?
Sabes, foram precisos alguns anos de digressões internacionais para eu ter a verdadeira noção das vastas diferenças culturais de cada país. No início, podia estar na Grécia, como estou hoje, amanhã na Rússia, depois, França, Portugal… é um choque de culturas, apesar de ser no mesmo continente Hoje, quando vou a determinado local, consigo logo identificar as diferentes características das pessoas e as cidades. De Portugal, desde logo, sei que a audiência é fantástica e exuberante! E estou desejoso de voltar ao Porto porque é uma bonita cidade; lembro-me de andar de bicicleta e a pé junto ao rio com a minha mulher. É um privilégio viajar pelo mundo a tocar a nossa música. Torna a vida ainda mais enriquecedora.

Nelson Santos
www.vai.com

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