THE BLACK ANGELS:
A Lenda de Roky Erickson

Nos dias que correm, o que não falta para aí são bandas a tocar garage rock e música psicadélica – mais ainda do que nos anos 60, altura em que estes estilos tiveram o seu apogeu, arriscaria dizer-se. Não há, no entanto, muitas tão fáceis de identificar e com uma personalidade tão marcada como THE BLACK ANGELS. Oriundos de Austin, no Texas, estes são os herdeiros directos da tradição que o psicadelismo tem na cidade desde que os 13th Floor Elevators começaram a fazer ondas. “É a primeira vez que vamos tocar em Portugal, por isso acho que vamos acabar por tocar temas de todos os nossos discos”, diz Christian Bland do outro lado de uma chamada transatlântica, antecipando a estreia da banda de que é guitarrista e teclista em Portugal. Com os Christian Bland & The Revelators, projecto no qual acumula funções, a prepararem-se para lançar álbum novo e os autores de «Indigo Meadow» já a trabalhar em material para o seu sucessor, o músico discutiu as lendas de Austin, Texas, antes de aterrar no Ribatejo.

Vão tocar pela primeira vez em Portugal e já disseste que os The Black Angels não seriam o que são se não fossem de Austin. O que é que a vossa cidade tem de tão especial?
Há nesta cidade uma tradição de música psicadélica, acho que isso ninguém pode negar. Sinto que tem de haver sempre uma fonte de equilíbrio e, de certa forma, teria de haver um lugar que se insurgisse contra a natureza conservadora deste Estado. Austin é essa cidade, uma anomalia no Texas. Acaba por ser uma coisa lógica –- num sítio com tantos conversadores, eventualmente teria de surgir alguém do contra. Nos anos 60, e antes mais ainda, o Texas era um estado profundamente conservador; os 13th Floor Elevators mudaram isso tudo.

Ao ponto de se tornar famoso o slogan, “Keep Austin Weird”.
É verdade. [risos] As pessoas daqui levam isso mesmo a sério, é algo de que se orgulham. No que toca às cidades do Texas, Austin é, sem dúvida, a mais estranha. Tudo o resto é demasiado conservador e não me vejo a viver noutro sítio. Quando me perguntam acerca disso digo que Austin ainda continua a ser tão “weird” quanto possível, mas nos últimos anos tem-se notado um incremento de gente abastada por aqui. A linha do horizonte está, definitivamente, a mudar… E muito depressa. Há grandes arranha-céus a ser construídos, as casas estão cada vez mais caras e as coisas estão em mutação. Espero que a faceta “weird” não se perca ali pelo meio. O pessoal de Nova Iorque e de Los Angeles muda-se para cá porque, para eles, é tudo mais barato, mas para quem ganha a vida com a música – como é o nosso caso – está a tornar-se tudo muito caro. Eu vivo na zona Este da cidade, que é onde grande parte dos artistas reside actualmente, mas a zona tem mudado imenso nos últimos tempos e as rendas começaram a tornar-se cada vez mais caras, por isso… Provavelmente vamos começar a mover-nos ainda mais para o Este, acho que vai ser isso que vai acontecer.

Vocês próprios contribuem para a estranheza da cidade com o Austin Psych Fest.
Eu, o Alex Maas e dois amigos começámos a fazer o festival. No início éramos só os quatro e as coisas têm crescido, mas a ideia continua a ser basicamente a mesma, trazer a melhor música psicadélica a Austin. Em 2014 aconteceu a sétima edição, que foi – sem qualquer dúvida – a mais concorrida até à data. Este ano já estavam mais de 5,000 pessoas, mas no primeiro ano tivemos 700 e, para nós, já foi um enorme sucesso. A coisa tem crescido, sim, está tudo a acontecer, mas os nossos objectivos não passavam exactamente por aí. O SXSW, por exemplo, é uma loucura nos dias que correm. Na altura em que começámos a tocar no festival, creio que por volta de 2005, era muito diferente… Mudou tudo imenso nos últimos anos, o que é um bom reflexo do que tem acontecido também à cidade. Agora vem gente de todo o lado e, com a enchente, mal se consegue circular na baixa da cidade. Cresceu de forma desmesurada, que é algo que não nos interessa.

Mencionaste os 13th Floor Elevators, que são emblemáticos de Austin e uma das influências primordiais dos The Black Angels. Com foi servirem de backing band ao Roky Erickson?
Foi uma enorme honra tocar com alguém que foi tão influente para nós, sem qualquer dúvida. De certa forma, foi surreal. Somos da mesma cidade e eles sempre foram uma enorme inspiração para nós. O mais provável é que, sem eles, os The Black Angels não existissem, por isso nem estávamos a acreditar quando o manager do Roky nos abordou e, do nada, fez o convite para o acompanharmos naquela digressão. Acabámos por acrescentar uma série de temas dos 13th Floor Elevators ao alinhamento e foi com agrado que tocámos com ele em Fevereiro –- fez a abertura de um concerto dos The Black Angels com a banda nova –- e percebemos que, agora, está a tocar ainda mais temas dessa época.

Há perspectivas para uma nova colaboração?
Na altura, isto em 2008, estávamos em plena digressão e foi-nos passada uma lista com 18 temas que o Roky nunca tinha gravado. Havia pautas, letras… Tudo. Nós gravámos as pistas instrumentais, acalentando a esperança que se sentisse inspirado a ir até ao estúdio gravar as vozes. Acabou por ser um processo muito complicado… Gravámos a «Bo’ Diddley’s A Headhunter» nessas sessões e a única coisa que ele canta nesse tema é “Bo’ Diddley’s A Headhunter”, mas demorámos sete horas só para ele conseguir cantar aquela linha direita. Às tantas percebemos que seria complicado gravar letras inteiras de temas que não toca há mais de 50 anos e, desde então, ninguém voltou a mexer naquelas gravações. Quem sabe o que pode acontecer? Na verdade, essa hipótese de voltarmos a colaborar está sempre em aberto.

José Miguel Rodrigues
http://theblackangels.com

Na LOUD! #162, agora nas bancas!, podem ler tudo sobre o próximo álbum dos THE BLACK ANGELS, como trocar disfarçadamente de instrumentos em palco e muito mais. Os CHRISTIAN BLAND & THE REVELATORS e os THE BLACK ANGELS actuam no Reverence Valada no dia 13 – às 18:20 e às 00:50, respectivamente.

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